Há quem diga que já não se escrevem cartas de amor”, mas no Meo Kalorama pensa-se diferente. Numa altura em que o correio tradicional parece quase em vias de extinção e a comunicação é feita, sobretudo, pela via virtual, o festival traz de volta a beleza do papel e da caneta, de uma carta escrita à mão.

Aqui, o público tem a oportunidade de escrever e enviar postais para os artistas que vão atuar no festival. Para isso, há, dentro do recinto, caixas do correio – das vermelhas, mesmo à antiga -, cada uma com o nome de um dos artistas que vão subir ao palco nesse dia.

“É diferente. Hoje em dia, já se perde muito isto da carta manuscrita. Por isso, acaba por ser mais especial termos a nossa própria letra, uma fotografia nossa... É mais pessoal”, explica Mafalda, promotora dos CTT no Meo Kalorama.

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A organização do festival, em parceria com os CTT, garante a entrega dos postais aos artistas nos bastidores.

“Direcionamos os envelopes aos palcos, dependendo de onde a banda está. Temos [caixas de correio para] as bandas dos três dias do festival”, refere. E nviamos diretamente na nossa mota dos CTT, portanto, é absolutamente garantido que o correio chega .

E quem são os artistas que têm recebido mais cartas? Até ao momento, “os Pet Shop Boys, sem dúvida”.

"É mais poético"

Joana, de 53 anos, e Filipini, de 50, são duas amigas de adolescência. “Conhecemo-nos ouvindo Pet Shop Boys, tínhamos 15 e 16 anos”, contam.

Apesar da relação de longa data com o grupo britânico, é aqui, no Meo Kalorama, que vão ver Pet Shop Boys ao vivo pela primeira vez. E não quiseram perder a oportunidade de lhes enviar uma carta.

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Dissemos-lhes que eram o soundtrack da nossa adolescência e para continuarem a ser o soundtrack das nossas vidas”, conta Joana.

O correio dirigido aos artistas levou, contudo, um pedido adicional à banda. “Escrevemos: ‘We love you. You pay our rent’”, revelam, entre risos.

“As rendas estão tão caras aqui em Lisboa! Quem sabe eles não se solidarizam e pagam a nossa renda?” , brincam. “A expectativa é que leiam a carta e paguem o nosso aluguer , porque o nosso amor é garantido!”

"Há mais o sentimento de que vão ver a mensagem"

Na caixa de correio ao lado, Duarte e Simão, ambos de 19 anos, deixam um postal para outra banda no festival.

"A cabámos de mandar uma carta para o s L’Impératrice ”, conta Simão. “É uma banda incrível . Adorámos, é uma vibe do caraças .

“Dissemos que os tínhamos visto no ano passado, no LAV, e tivemos de voltar para vê-los aqui no Kalorama, explica o jovem.

“É como se fosse um convite para estarem sempre a vir a Portugal. Porque, se eles vierem, nós estamos lá .

E se esse era um recado que podia chegar, por exemplo, através de um comentário ou uma mensagem nas redes sociais da banda, qual a mais-valia de fazê-lo por este mio?

“Aqui há mais o sentimento de que eles vão ver a mensagem, enquanto no Instagram são sempre muitas mensagens e é complicado terem tempo para ver tudo”, afirma Duarte.

“E é aquele sentimento de estar a escrever à mão, em vez de estar a escrever no computador. É sempre melhor - e se pudermos entregar aos artistas, ainda melhor.