
“Queria criar o meu primeiro grande projeto Lego e senti-me atraído pelo desafio de construir o elétrico”, conta Piotr à SIC, que tomou a decisão após uma “visita memorável” a Lisboa. Sem conseguir precisar o número de horas investidas na empreitada (“contam-se em centenas”), admite que o desenho da carruagem, inclinada num ângulo de 20,5º graus, foi mesmo a parte mais difícil: “O elétrico em si levou muito mais tempo a projetar do que o resto da composição”.
O Ascensor da Bica, que liga a Rua de São Paulo ao Largo do Calhariz, em Lisboa, classificado como Monumento Nacional, foi publicado em formato brinquedo na plataforma Lego Ideas a 29 de fevereiro de 2024. No primeiro mês, recebeu o apoio de 1.000 utilizadores, e pouco tempo depois foi selecionado e destacado pelos editores (‘staff pick’), que reconheceram a originalidade e a qualidade da apresentação. Já em fevereiro deste ano, atingiu a meta dos 10.000 votos, que faz o projeto avançar automaticamente para a fase de revisão.
O processo de avaliação do Ascensor começa em maio deste ano. Se for aprovado, passará à fase de desenvolvimento com vista à comercialização – se isso vier a acontecer, o autor terá direito a 1% do valor líquido das vendas do artigo.
O ascensor de 2.997 peças, para já, existe apenas no formato digital, desenhado a partir de um software de design: “Não tinha orçamento para comprar as peças todas. Testei apenas algumas partes da construção para avaliar a resistência”, explica.
Lembra-se do Elétrico 28 em Lego, made in Portugal?
Quais são as hipóteses de um modelo desenvolvido por um fã chegar às lojas? Em 2022, um famoso elétrico amarelo, criado por um português, chegou à mesma fase que o Ascensor da Bica. Ezequiel Alabaça recorda à SIC que, na altura, a ideia acabou por não ser aprovada pela marca. Três anos depois, conseguiu que a peça chegasse novamente à fase de revisão e, esta sexta-feira, recebeu a mesma notícia: não foi selecionado.
Recorde a reportagem da SIC em 2022:
“Todo o processo de avaliação é confidencial”, explica-nos agora, mas para que as submissões sejam aceites na plataforma são tidos em consideração aspetos como “o número de peças, o tema da construção, a qualidade das fotografias e a não existência de marcas registadas ou objetos com direitos de autor”.
Guitarra portuguesa à escala real
Ezequiel recupera outro símbolo português que submeteu no mesmo ano, mas que não teve a mesma visibilidade e não conseguiu o apoio necessário para chegar sequer à fase de revisão: é uma guitarra portuguesa — à escala real. Ao contrário do Ascensor de Piotr, esta guitarra ganhou mesmo forma física com os famosos tijolos de plástico dinamarqueses. Agora, vai tentar novamente captar a atenção da equipa da Lego.
Estação do Pinhão, Torre de Belém ou Miradouro das Portas do Sol: construções ligadas a Portugal não ficam por aqui
É o mesmo Ezequiel que nos alerta para outros trabalhos ligados a Portugal que têm vindo a ganhar destaque entre os entusiastas. Na mesma fase de revisão que o Ascensor e o Elétrico está um foguete do TinTim. A banda desenhada nasceu na Bélgica, mas o autor desta reconstituição é português: Alexis Dos Santos, designer de 39 anos que é também AFOL (Adult Fan of LEGO, ou Adulto Fã de Lego).
Na mesma página, encontramos ainda duas Torres de Belém (aqui e aqui), a estação de comboios do Pinhão, um mosaico de azulejos portugueses e um quadro com a paisagem vista a partir do Miradouro das Portas do Sol, em Lisboa. A probabilidade de virem a fazer parte do catálogo da Lego, com todas as peças selecionadas e livrinho de instruções, é muito reduzida, mas estas criações são uma homenagem ao património português e podem servir de inspiração para outros fãs.
Ponte Luís I também em Lego
De todas as obras de arte ligadas ao nosso país, a mais recente é a Ponte Luís I, que liga Porto e Gaia, publicada esta semana pelo francês Sébastien Houyoux no Facebook. O estudante de engenharia civil, e fã de arquitetura, submeteu a construção ao concurso Marchitecture de 2025, que deverá anunciar os vencedores em maio.
O modelo, desenhado à escala de 1/325, levou entre “90 a 100 horas para ser projetado, durante um total de 14 dias”, detalha-nos Sébastien.
“Há uns anos encontrei a ponte no Google Maps e achei-a absolutamente incrível. Tive a oportunidade de a ver ao vivo em 2024 e, desde então, soube que queria construí-la com Lego."
Tem “cerca de 13.000 peças”. Tal como o Ascensor, existe apenas num programa de design, mas o objetivo é “arranjar dinheiro para construir a ponte na vida real”.
A paixão pelo brinquedo começou na infância, como acontece com a maior parte dos entusiastas (mais e menos sofisticados), mas as primeiras construções “de adulto” do estudante francês surgiram em 2020, durante o confinamento, quando começou a desenvolver criações relacionadas sobretudo com arquitetura.
Sobre a plataforma Lego Ideas e a possibilidade de submeter a icónica ponte sobre o Douro à avaliação dos profissionais da marca, Sébastien reconhece que o modelo pode não cumprir os critérios de tamanho. “É demasiado grande”: quando a ponte for construída à mão, terá mais de um metro de comprimento.
Se encontrar outros monumentos da cidade do Porto supostamente construídos em Lego, provavelmente estarão relacionados com esta mentira de 1 de abril (de 2024) da página de Instagram Agenda Cultural do Porto: são imagens geradas por Inteligência Artificial. Mas não custa imaginar.
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