A Suíça tem visto uma discussão nos últimos dias sobre a regulação bancária com foco nos salários dos profissionais da banca. A câmara alta do parlamento suíço passou uma moção, no dia 11 deste mês, que pretende estabelecer um teto no vencimento dos banqueiros – que deve ficar entre 3,13 milhões e 5,22 milhões de euros anuais. A moção segue agora para a câmara baixa depois de ter sido inicialmente rejeitada em 2023, após o colapso do Credit Suisse.

Em destaque na discussão sobre a regulação bancária estão o UBS e o seu CEO, Sergio Ermotti, explica a Agência Reuters. O banqueiro auferiu um salário de cerca de 15 milhões de euros em 2023, que levou a ministra das Finanças a questionar se um salário assim era correto. Para 2024, já se sabe que Ermotti teve um vencimento total de 15,55 milhões de euros. O UBS, aponta a Reuters, tem-se tornado uma preocupação para a economia suíça dado o seu tamanho após a aquisição do falido Credit Suisse.

No entanto, o que sobressaiu do relatório de contas do banco suíço foram os problemas relacionados com a integração do Credit Suisse. O banco recebeu uma “opinião adversa” da parte dos auditores da EY sobre o seu relatório do ano anterior, mais especificamente sobre os problemas relacionados com os “controlos internos”.

Estes problemas, justifica o banco, advêm da integração do Credit Suisse. O banco suíço que colapsou em 2023 já apresentava situações mal declaradas nos seus relatórios e, agora que a integração foi em frente, o UBS não pôde ocultá-las do seu próprio relatório por ainda não estarem resolvidas. Uma opinião adversa de um auditor não é algo comum para um banco global, nota a Reuters, relembrando também que, em janeiro, o UBS quase perdeu a licença para continuar a gerir planos de reforma nos EUA, por causa de um erro relacionado com burocracias ligadas à integração do banco falido.

O UBS argumenta que tem em andamento um plano de remediação para os problemas provindos da aquisição do Credit Suisse. O banco considera que ainda não teve tempo de corrigir todas as falhas, contudo não apresentou uma data provável para a resolução das mesmas. O UBS não quis fazer mais comentários, segundo a Reuters, bem como o regulador do mercado suíço, o FINMA, que reiterou apenas estar em “contacto intenso” com o banco devido à integração.

A Reuters recorda também que a Securities and Exchange Comission (SEC) dos EUA estava, desde 2022, a questionar o Credit Suisse sobre os seus problemas, ao que o então CFO, em março de 2023, respondeu que as deficiências de controlo estavam a ser reavaliadas. O relatório do Credit Suisse de 2022, segundo a Reuters, já contava com alertas da PwC. O banco colapsou uma semana depois, levando à compra pelo UBS por 3,13 mil milhões de euros.

O CEO da UBS, numa conferência organizada pelo Morgan Stanley, afirmou que o banco não controla o processo político, referindo-se a outra discussão que está a decorrer sobre as reservas de capital que o banco deve ter, tendo em conta o seu tamanho atual. Neste sentido, a ministra das Finanças, Karin Keller-Sutter, reiterou, na semana passada, que o Governo não se vai deixar influenciar pelo ‘lobbying’ “intenso” do UBS. Keller-Sutter reforçou que este ‘lobbying’ é “visível” e “claro” e reforçou no parlamento nesta semana a intenção do Governo de apertar as regras sobre os grandes bancos, segundo a Reuters.

Ermotti revela que espera saber mais sobre o assunto das exigências de capital em maio, mas, num memorando aos trabalhadores que publicou online, alerta que “exigências de capital excessivas” colocam o centro financeiro da Suíça em desvantagem. Apelou ainda a “prudência” por parte do legislador e pediu maior atenção das autoridades para detetar problemas mais cedo.

Sobre a questão das exigências de capital, a Bloomberg reportou nesta quinta-feira, citando fontes próximas do processo, que o banco suíço está a considerar outras opções de sede caso as exigências de capital sigam em frente. No entanto, quando questionado, o UBS apontou apenas para uma entrevista de Ermotti à Bloomberg, em janeiro, na qual afirma que sair da Suíça “não é um tópico sequer a considerar”.