
O presidente do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), Akinwumi Adesina, alertou esta Quarta-feira para as consequências económicas das tarifas impostas pelos Estados Unidos a África e salientou que o continente tem uma economia com potencial de crescimento.
Akinwumi Adesina disse que as tarifas impostas pelos EUA, que têm repercussões mundiais, “podem desencadear grandes perturbações económicas em África, afectando muitos países e acelerando uma mudança estratégica nas parcerias globais”.
O presidente do BAD referiu que 47 dos 54 países africanos serão diretamente afetados por esta nova política comercial dos EUA, o que, potencialmente, vai diminuir as receitas das exportações destas nações e das suas reservas de divisas (activos em moeda estrangeira que um país detém, controlados pela sua autoridade monetária).
“Quando estas moedas enfraquecerem, acontecerão duas coisas: em primeiro lugar verificar-se-á que a maioria destes países depende das importações. Por isso, vão enfrentar uma inflação elevada. Em segundo lugar, o custo do serviço de uma grande parte da sua dívida, que é em moeda estrangeira, mas denominada em moeda local, irá aumentar”, explicou Adesina.
Por outro lado, o impacto destas tarifas é exacerbado “por cortes significativos nos programas da [agência] USAID [Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional]”, que já começaram a afectar o acesso a material médico essencial e a serviços humanitários em muitos países, suscitando sérias preocupações quanto ao futuro das relações dos EUA com os países africanos, pode ler-se no comunicado do BAD.
Apesar destes desafios, Adesina sublinhou que África “não pode permitir um confronto comercial” entre si e os EUA, observando que o continente representa apenas 1,2% (cerca de 30 mil milhões de euros) do comércio global dos EUA.
Na sua opinião, deve ser desenvolvida uma estratégia pragmática de três pontos para o continente: encetar negociações comerciais flexíveis e construtivas com os EUA; diversificar os mercados de exportação para reduzir a dependência de um único parceiro; acelerar a implementação da Zona de Comércio Livre Continental Africana (ZCLCA) para desbloquear o potencial de um mercado de 3,4 mil milhões de dólares (cerca de três mil milhões de euros).
Outras recomendações do presidente do BAD foram a expansão do mercado interno africano e o aumento das poupanças nacionais, “a fim de expandir o consumo e aumentar a sua quota no PIB [Produto Interno Bruto], tirando partido do enorme crescimento demográfico do continente”.
“Mais importante ainda, o continente deve tirar partido do crescente interesse externo nos seus recursos naturais, incluindo o cobalto e o lítio, para negociar melhores acordos comerciais e de investimento”, alertou, citado pela Lusa.
Adesina, que termina o seu segundo mandato à frente do banco em Setembro, rejeitou firmemente o paradigma tradicional da dependência da ajuda externa.