Nas últimas décadas, a imagem de Portugal no exterior esteve ligado a certas individualidades – Cristiano Ronaldo, Figo, Amália, Eusébio – mas há uma mudança nos últimos quatro ou cinco anos: os investidores conhecem o país e encontram-lhe grande atratividade. Portugal passou a ser um produto – de que temos de cuidar”. Mas “a imagem de Portugal tem vindo a decair nos últimos dois anos”, assegurou João Moura, Partner da EY de Real Estate, Hospitality, Construction, no âmbito da Advisory Summit 2025, promovida pelo JE, com o apoio da EY Law, VdA, PLMJ e Morais Leitão.

É a inversão deste ciclo pouco positivo que importa encarar como o próximo desafio – se o país entender que continua a ser importante manter uma posição de destaque no quadro da captação de investimento direto estrangeiro (IDE), referiu João Moura, intervindo num painel dedicado ao tema ‘Portugal é atrativo para os negócios?’.

Ora, para melhorar a atratividade de Portugal, é necessário desde logo ‘vender’ o país com foco nos segmentos de atratividade. A AICEP não tem ainda um papel de foco, “que possa monitorizar o investimento direto estrangeiro”. E adiantou que esse foco não deve estar no lado dos custos (de mão d’obra) – ou seja, é tempo de o país deixar de ‘vender-se’ como um lugar onde o custo do trabalho é reduzido.

Instabilidade política e instabilidade fiscal e jurídica continuam a marcar a imagem de Portugal no exterior. O número de eleições antecipadas que ocorreram recentemente não ajudará com certeza, mas há soluções: a criação da figura de private banking, por exemplo. É crucial que haja alguém que na administração pública centralize soluções e as apresente de forma exequível. No horizonte deverá estar a alteração de uma das evidências que existem por aí: Portugal promete muito, mas cumpre poucos. “Temos de mudar esta imagem”, disse João Moura, desde logo mudando atitudes da administração pública. E, como não podia deixar de ser, afirmou que um dos maiores problemas do país é a morosidade, que radica na burocracia de processos – com impacto real no custo financeiro das operações de IDE, uma matéria que a máquina burocrática não está disponível para avaliar.

Por outro lado, a AICEP tem de encontrar um ‘hub’ de parcerias estratégicas com determinados países – ou seja, nem todo o IDE é igual. “Devemos dar especial atenção a países que vão ser parceiros de futuro”. Parcerias, compra de tecnologia, procura de talento em Portugal, devem ser os critérios de seleção para que o país encontre os parceiros externos ideais – em detrimento daqueles que têm uma perspetiva que se podia chamar de ‘toca e foge’. Para João Moura, “fomentar o orgulho em ser português, reforçar a estabilidade fiscal e política, reter e chamar talento”, são essenciais.

Contrariando alguns números que vão circulando, João Moura disse que “não temos uma tendência crescente ao nível do IDE. 2000, 2007 e 2015 foram os ciclos mais importantes. Temos de estar preparados para o novo ciclo”, que, não havendo evidentemente uma certeza, deverá ocorrer em 2027-28. “Temos dois anos para mudar a imagem de Portugal”.

Em 2023 vieram para Portugal sete mil milhões de dólares de IDE. Nos Emirados Árabes Unidos, por exemplo, e para o mesmo ano, foram captados 30 mil milhões. “Temos que estar atentos à concorrência e lançar uma campanha de melhoria da sua imagem”, disse o responsável de EY. “Continuarmos a ser um país que honra os seus contratos, promover atratividade pelo valor e não pelos custos”, são dois aspetos essenciais. Um estudo da EY sobre a matéria indica que a atratividade do país tem de aumentar. No caso específico do sector industrial – aquele que tem a capacidade para tornar os investimentos mais perenes – o grau de atratividade do país não é famoso. Num contexto em que Estados Unidos, Alemanha, mas também o Brasil cada vez mais, são as proveniências mais importantes em termos de IDE, o país tem de combater uma visão do exterior que vai ficando mais magra – há uma baixa de expectativas sobre o país, que passou de uma análise positiva de 84% para 60% em termos de preferência como destino.

Os ’remédios, ou alguns deles, passam, salientou João Moura, pelo aumento de investimento em novas geografias fora de Lisboa e do Porto e na superação dos riscos das condições macroeconómicas, o crescimento lento e instabilidade política e fiscal – que, afirmou, tem de ser reduzido e simplificado. Mas não só: aumentar a oferta de competências no emprego, insistir na mobilidade do talento e investir na flexibilidade das leis de contratação, são essenciais. Garantir qualidade de vida, justiça social e sustentabilidade também. E, evidentemente, “promover a atratividade pelo valor e não pelo custo”.

Em termos de atratividade de IDE, Portugal chegou a fazer parte do top5 mundial. Atualmente está em nono lugar e o risco de sair do top10 parece ser maior que o de voltar ao top5. Última ‘dica’: a tendência da Europa em termos de procura de posição geográfica para o investimento está na reindustrialização, concluiu João Moura.

António Freitas de Sousa