Por mais impressionante que tenha sido a temporada de Coco Gauff — com cerca de 34,4 milhões de dólares arrecadados entre prémios e contratos publicitários —, a jovem estrela do ténis norte-americano continua ausente da lista dos 50 atletas mais bem pagos do mundo, segundo a Forbes internacional.

É uma ausência que ilustra uma realidade persistente e estrutural: os ganhos das atletas femininas, mesmo em modalidades onde o talento e o espetáculo são indiscutíveis, continuam muito aquém dos seus pares masculinos.

Gauff e um ano de recordes — mas ainda fora do top

Com apenas 21 anos, Gauff conquistou o seu primeiro Grand Slam no US Open e elevou o número de patrocinadores para 11, com marcas como Carol’s Daughter, Fanatics e Naked Juice a juntarem-se ao portefólio. Os seus 9,4 milhões de dólares em prémios e 25 milhões de dólares em patrocínios tornaram-na uma das atletas mais bem pagas da atualidade.

Mas, para integrar o top 50 dos atletas mais bem pagos do mundo em 2025, seria necessário ter ganho pelo menos 53,6 milhões de dólares, um valor quase 20 milhões de dólares acima do total arrecadado pela tenista. Em comparação, há 10 anos, o patamar de entrada era de “apenas” 24 milhões de dólares.

Nenhuma mulher no top 50 de novo

A última mulher a entrar nesta lista foi Serena Williams, em 2023, a sua sexta presença em nove anos. Desde 2012, apenas mais três atletas femininas conseguiram essa distinção: Maria Sharapova, Li Na e Naomi Osaka. A ausência de atletas femininas no top tem sido recorrente, sobretudo entre 2017 e 2019, e volta a repetir-se em 2025.

O desequilíbrio nos salários e prémios monetários tem uma explicação fundamental: os desportos masculinos continuam a gerar receitas muito superiores, sobretudo em direitos de transmissão, que influenciam diretamente os salários e os contratos.

Ainda que o cenário esteja a mudar – a Deloitte estima que os desportos femininos de elite vão gerar 590 milhões de dólares em receitas de media em 2024, mais 74% do que em 2023 – , o contraste é gritante. A WNBA, por exemplo, aumentou as receitas de transmissão para cerca de 200 milhões de dólares, mas a NBA, sua homóloga masculina, prepara-se para ultrapassar os 6,9 mil milhões de dólares em receita.

Caitlin Clark e a nova geração

O caso de Caitlin Clark, estrela emergente da WNBA, é ilustrativo: a atleta irá receber cerca de 150 mil dólares por época, um número irrisório face aos 25 milhões ganhos por Victor Wembanyama, principal escolha do draft da NBA no mesmo ano.

Mesmo com expectativas de melhorias no contrato coletivo da WNBA (que pode elevar o teto salarial para um milhão por jogadora), os valores continuam abaixo do salário mínimo da NBA, atualmente em 1,2 milhões de dólares.

Ténis, a exceção (com limitações)

O ténis tem sido pioneiro na igualdade de prémios em torneios de Grand Slam, mas mesmo nesta modalidade persistem diferenças significativas em eventos menores. Naomi Osaka, que regressou recentemente à competição após ser mãe, tenta reconstruir a sua presença no circuito — e no ranking de ganhos.

Futebol feminino: crescimento acelerado

A NWSL, liga de futebol profissional dos EUA, multiplicou por 60 as suas receitas de media com novos contratos a partir de 2024. Ainda assim, o teto salarial por equipa não ultrapassa os 3,3 milhões de dólares — devendo crescer para 5,1 milhões até 2030. Mudanças mais estruturais nas remunerações só poderão acontecer após o fim do atual acordo coletivo, daqui a cinco anos.

Apesar da crescente visibilidade e dos esforços para profissionalizar e valorizar o desporto feminino, os números não mentem: nenhuma mulher entrou no top 50 dos atletas mais bem pagos do mundo em 2025. E, com os valores mínimos a subir de forma acelerada, a distância entre talento e recompensa financeira continua, para já, a crescer.

Mas a evolução nas audiências, nas receitas de media e no envolvimento de marcas com desportistas femininas mostra que há um novo ciclo em construção. O futuro pode não estar garantido, mas está em movimento.

Com Forbes Internacional/Justin Birnbaum