O Standard Bank foi o banco moçambicano que mais lucrou em 2024, mas, no conjunto, os três maiores do país viram os resultados líquidos cair 31,4% no ano passado, face ao anterior, para 214 milhões de euros. De acordo com dados compilados pela Lusa a partir dos relatórios e contas dos três bancos, recentemente aprovados, o Standard Bank, de capitais sul-africanos, o Banco Comercial e de Investimentos (BCI) e o Millennium BIM, ambos de capitais portugueses, tinham registado lucros recorde de 22,58 mil milhões de meticais (312 milhões de euros) em 2023.

Contudo, os resultados líquidos dos três bancos considerados sistémicos no país caíram para 15,48 mil milhões de meticais (214 milhões de euros) em 2024, segundo os mesmos dados.

O Standard Bank destronou em 2024 o BCI na liderança dos lucros, que ainda assim recuaram quase 15% num ano, para 6,13 mil milhões de meticais (84,7 milhões de euros). O BCI, detido pela Caixa Geral de Depósitos, viu o lucro recuar mais de 26%, para 6,04 mil milhões de meticais (83,4 milhões de euros), enquanto os do Millennium BIM, do BCP, caíram 54%, para 3,31 mil milhões de meticais (45,7 milhões de euros).

O Millennium BIM e BCI confirmaram que não vão distribuir dividendos de 2024 aos acionistas, aplicando-os em reservas, enquanto o Standard Bank propôs a distribuição de 3,68 mil milhões de meticais (50,8 milhões de euros) em dividendos, metade do valor de 2023.

O BCI, o maior banco moçambicano nos principais indicadores, com 2712 trabalhadores, justificou o desempenho de 2024 “pelo aumento dos custos com imparidades e provisões em 127,1%”, sendo este um “reflexo da prudência adotada” na “cobertura dos ativos expostos ao risco de crédito e ao risco soberano”. “Esta abordagem deveu-se, em grande medida, aos impactos do contexto pós-eleitoral adverso, incluindo a perspetiva de ‘downgrade’ do ‘rating’ do país”, justifica o relatório e contas do BCI.

Com um capital social de 10 mil milhões de meticais (138 milhões de euros), a estrutura acionista do BCI é liderada (51%) pela Caixa Participações, do grupo Caixa Geral de Depósitos (CGD), contando com o BPI (35,67%) e ainda diretamente pela CGD (10,51%), entre outros. O Standard Bank explicou que o desempenho foi condicionado pela “fraca atividade económica”, bem como a redução das taxas de juro, a escassez de divisas, a baixa procura de crédito e o elevado coeficiente de reservas obrigatórias decidido pelo banco central.

O Standard Bank Moçambique é um banco privado constituído em 1967, com sede em Maputo, – mas cuja atividade no país já data de 1894 – e que tem como empresa-mãe e acionista maioritário o Stanbic Africa Holdings Limited, um banco de investimento constituído no Reino Unido que detém uma participação equivalente a 98,15% do capital social.

Por outro lado, o Millennium BIM afirmou que a quebra nos lucros de 2024 é “essencialmente explicada pelos aumentos nas imparidades e provisões”. “Refletindo o aumento das imparidades para a dívida pública”, justifica o BIM no relatório e contas de 2024, referindo que a imparidade de títulos da dívida pública aumentou 2,1 mil milhões de meticais (29,2 milhões de euros) no último ano, “na sequência da revisão em baixa do ‘rating’ para emissões do Estado em moeda nacional”.

O BIM iniciou atividade em outubro de 1995, em resultado de uma parceria estratégica entre o Banco Comercial Português (Millennium BCP) e o Estado Moçambicano.

À data de 31 de dezembro de 2024, contava um capital social de 4,5 mil milhões de meticais (62,6 milhões de euros), a maioria detido pelo BCP África (grupo Millennium BCP), com uma participação de 66,69%, seguindo-se o Estado de Moçambique (17,12%), o Instituto Nacional de Segurança Social moçambicano (4,95%) e a Empresa Moçambicana de Seguros (4,15%), entre outros acionistas.

Funcionam em Moçambique 15 bancos comerciais e 12 microbancos, além de cooperativas de crédito e organizações de poupança e crédito, entre outras.

Agência Lusa

Editado por Jornal PT50