Em entrevista publicada na terça-feira, o administrador da Autoridade do Canal do Panamá, Ricaurte Vásquez, afirmou que o negócio poderá resultar numa concentração de operadores "incompatível com a neutralidade" do canal.

A transação, avaliada em 23 mil milhões de dólares (20 mil milhões de euros), prevê a venda de portos operados pela CK Hutchison Holdings no estrangeiro a um consórcio liderado pela gigante norte-americana BlackRock e pela empresa de navegação Mediterranean Shipping Company (MSC).

Vásquez afirmou ainda que um pedido do Governo dos Estados Unidos para que os seus navios militares passem gratuitamente pelo canal "não é viável" com as atuais regras de utilização da infraestrutura.

Ele sugeriu também que a própria Autoridade do Canal deveria tornar-se operadora dos portos.

Em resposta, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Lin Jian, disse hoje que Pequim "sempre se opôs firmemente à coerção económica, ao autoritarismo e à intimidação".

"Em relação à navegação dos navios dos países relevantes, a China continuará, como sempre, a respeitar a soberania do Panamá sobre o canal e a reconhecer o canal como uma via navegável internacional permanentemente neutra", afirmou.

"Estamos ao lado do Panamá nos seus esforços para manter a independência e defender firmemente os seus direitos e interesses legais como país soberano", acrescentou.

A CK Hutchison, controlada pelo magnata de Hong Kong Li Ka-shing, anunciou em março a venda da participação em 43 portos internacionais, incluindo dois situados na zona do Canal do Panamá.

A estratégica via marítima tornou-se um novo ponto de tensão na rivalidade geopolítica entre potências, com o Presidente norte-americano Donald Trump a defender publicamente a "recuperação" dos portos panamianos "das mãos da China".

A China manifestou de forma indireta o seu desagrado com o negócio, ao partilhar artigos de opinião publicados em órgãos de comunicação pró-Pequim em Hong Kong, que classificaram a venda como uma "traição ao povo chinês".

A Administração Estatal de Regulação do Mercado da China anunciou, entretanto, a intenção de abrir uma investigação antimonopólio sobre a operação.

Ricaurte Vásquez afirmou que a estrutura do negócio representa um "risco potencial de concentração de capacidade".

Um "nível significativo" de concentração entre operadores portuários pertencentes a uma única empresa de navegação prejudicaria a competitividade do Panamá no mercado e contrariaria o princípio de neutralidade do canal, indicou.

A MSC, com sede em Genebra e atualmente a maior transportadora mundial de contentores, poderá tornar-se também a maior operadora portuária global se concretizar a aquisição, em parceria com a BlackRock.

Na semana passada, o chefe do Executivo de Hong Kong, John Lee Ka-chiu, afirmou que as empresas da cidade devem considerar os interesses nacionais ao realizar negócios comerciais, embora não tenha comentado diretamente o caso.

 

JPI //

Lusa/Fim