
O Banco de Portugal (BdP) atualizou nesta sexta-feira as suas previsões para a economia portuguesa entre 2025 e 2027. O banco central estima agora que o PIB português deva crescer apenas 1,6% neste ano, abaixo dos 2,3% previstos no boletim económico de março. Ainda assim, destaca, Portugal deve crescer, em média, 0,7 pontos percentuais (pp) acima dos pares do euro.
Este corte da projeção do BdP surge na sequência da contração da atividade no primeiro trimestre do ano, algo que “não foi antecipado” pela instituição. Para o trimestre seguinte, que termina em junho, o banco central espera um crescimento de 0,4% em cadeia. Para isto deve contribuir uma retoma da fabricação automóvel, que deve beneficiar as exportações de bens. O consumo, espera-se, vai ser mais contido devido aos menores reembolsos de IRS e à redução da confiança dos consumidores, adianta o BdP. Para a segunda metade do ano, o PIB deve evoluir 0,6%, “refletindo em larga medida um maior dinamismo do consumo privado”.
Estas projeções, explica a instituição, partem do princípio que as tarifas impostas pelos EUA se mantêm e que a UE não vai retaliar. “Neste contexto, espera-se um menor crescimento do PIB e do comércio mundiais, mas a procura externa dirigida a Portugal deverá ser menos afetada, refletindo o peso dominante da UE nas exportações nacionais”, esclarece. O Banco de Portugal prevê que “a incerteza elevada gerada pela sequência de anúncios de tarifas penaliza o crescimento, em particular no investimento, mas deverá reduzir-se gradualmente no horizonte da projeção”. Para 2026, o banco central salienta o alívio das condições financeiras, as maiores entradas de fundos da UE e a robustez do mercado de trabalho.
Nesta ótica, a instituição liderada por Mário Centeno não faz qualquer alteração à sua previsão sobre a taxa de desemprego, que mantém uma estimativa constante de 6,4% nos próximos anos. Contudo, do lado do emprego, este deve abrandar até 2027. Em 2025, este indicador atingiu novos máximos e deve subir 1,4%, de acordo com o BdP. Este crescimento vai ser de apenas 0,7% em 2026 e de 0,5% em 2027, aponta o banco central, justificando isto com os “aumentos mais contidos da população em idade ativa e da taxa de atividade face ao passado recente”. O BdP destaca ainda a contribuição da mão de obra estrangeira para o crescimento do emprego.
Ainda na ótica do emprego, prevê-se um aumento de 4,1% das remunerações em 2025, 3,8% em 2026 e 3,6% em 2027. Os ganhos devem ser superiores na função pública, devido ao impacto da revisão de carreiras e às novas regras de progressão. “Os valores projetados implicam ganhos dos salários reais gradualmente mais contidos e alinhados com o crescimento da produtividade, sendo assim compatíveis com uma inflação próxima do objetivo de 2% do BCE”, sublinha.
Olhando para a inflação, a redução da mesma deve “consolidar-se no horizonte da projeção”, estima o supervisor bancário. No primeiro trimestre, fixou-se em 2,3%, tendo atingido 2,1% em abril. Apesar de “alguma volatilidade ao longo do ano”, o Banco de Portugal prevê que a inflação deve baixar de 2,7% em 2024 para 1,9% neste ano. Em 2026, espera que caia para 1,8%, com um regresso a 1,9% em 2027. “Este resultado reflete a evolução moderada dos preços de importação e a diminuição gradual das pressões internas com origem nos custos laborais. Face ao Boletim de março, a inflação foi revista em baixa em 2025 e 2026 (0,4pp e 0,2pp, respetivamente), refletindo a revisão em baixa dos preços internacionais das matérias-primas energéticas e a apreciação recente da taxa de câmbio do euro”, explica.
Vários riscos em cima da mesa
O risco mais evidente referido pelo Banco de Portugal prende-se com as tensões comerciais, que, se se agravarem, vão ter “um maior impacto sobre as cadeias de abastecimento globais, o comércio mundial e a procura externa dirigida a Portugal”. As políticas económicas e orçamentais dos EUA podem criar problemas com a confiança e os mercados financeiros e cambiais, especula, o que reforça o impacto negativo sobre a atividade.
Por sua vez, os conflitos armados mantêm-se também como um risco, ainda que em baixa. Uma maior despesa com defesa, à luz dos compromissos internacionais, “constitui também um risco em alta para a atividade”, admite. Já a resolução destes conflitos pode levar a uma recuperação da atividade na Europa com impacto positivo na procura externa dirigida a Portugal. Também em baixa, para o investimento, aparecem as dificuldades em executar integralmente os fundos europeus. Por seu turno, o aumento da incerteza pode levar a mais poupança privada, o que, por outro lado, resulta em menor consumo privado.
No que diz respeito às previsões orçamentais do Estado, o BdP conta com um défice de 0,1% do PIB já neste ano, que se agrava para 1,3% em 2026 e 0,9% em 2027. Isto reflete a aplicação de “políticas pró-cíclicas expansionistas”, argumenta. Ainda assim, o rácio da dívida pública deve continuar a diminuir nos próximos anos. Em 2024, este rácio cifrou-se em 94,9% e a expectativa é de 91,1% em 2025, 88,4% em 2026 e 85,8% em 2027. Este rácio pode ficar abaixo da média do euro já em 2026, avança o supervidor.
“A manutenção dos equilíbrios macroeconómicos da economia portuguesa é uma condição necessária para enfrentar um enquadramento internacional desfavorável”, realça o BdP. O banco central argumenta que a importância destes equilíbrios foi evidente no período pandémico e no episódio inflacionista subsequente. A redução do endividamento, das famílias às administrações públicas, tem sido “fundamental”. “Num contexto internacional volátil, as políticas nacionais devem contribuir para mitigar a incerteza, incentivar o investimento e promover a inovação, mantendo-se a aposta na melhoria contínua das qualificações da população. É importante também que os progressos obtidos nas contas públicas sejam preservados, pois a deterioração da posição orçamental limitaria a capacidade de reação a choques adversos e às pressões estruturais de aumento da despesa”, defende.
“Embora a posição portuguesa se mantenha favorável no contexto do euro, é fundamental conter a deterioração orçamental, assegurando o cumprimento das regras orçamentais europeias. A elevada dívida pública permanece uma vulnerabilidade”, alerta o Banco de Portugal.