
Sem perder pitada do que se passa em Inglaterra, Ruud Gullit revelou que compreende a escolha arriscada de Ruben Amorim quando trocou o confortável lugar no Sporting pela incerteza do Manchester United e pede paciência para o técnico português.
- O Ruud Gullit esteve em alguns grandes clubes ingleses. Qual é a sua opinião sobre o estado atual de Chelsea, no qual jogou de 1995 a 1998 (e foi também treinador de 1996 a 98) e Newcastle, que orientou em 1998/1999?
- O Chelsea ainda parece um enigma. É difícil dizer o quão bons – ou não tão bons – eles realmente são. Acho que ainda estão à procura da sua identidade. Estão a subir na tabela, o que é positivo, e se encontrarem o seu ritmo, podem eventualmente disputar o título. Mas, neste momento, ainda não é claro onde estão e como se posicionam. Por outro lado, estou muito feliz pelo Newcastle. Ganhar um troféu [Newcastle venceu a Taça da Liga, 2-1 ao Liverpool, o primeiro grande título inglês em 70 anos] foi uma conquista muito importante o clube, é algo que eles mereciam há muito tempo. E quem viu o jogo percebeu que estavam preparados para esse momento. Sentia-se a vontade com que estavam de conquistar esse troféu. Está de parabéns o Newcastle e os adeptos, estou orgulhoso do percurso que fizeram até aqui.
- O seu tempo em Newcastle foi desafiador. Cheio de grandes expectativas, mas que acabou com uma enorme deceção…
- É verdade, chegámos a uma final, mas defrontámos uma equipa do Manchester United que ganhou tudo. Recentemente tive oportunidade de rever esse jogo, no ESPN Classic, e até não jogámos mal! Mas o United tinha cinco jogadores que podiam marcar a qualquer momento. A sua qualidade individual fez a diferença.
Sob o comando de Mourinho, goste-se ou não, sabia exatamente o que a equipa do Chelsea representava. Essa identidade é o que está a faltar agora.
- O Chelsea continua a mudar de treinador com frequência. Surpreende-o?
- Nem por isso. Isso faz parte do quebra-cabeça do Chelsea. Mesmo quando um treinador é bem-sucedido, ele ainda é demitido. O que querem? Qual é a sua visão a longo prazo? Sob o comando de Mourinho, goste-se ou não, sabia exatamente o que a equipa representava. Essa identidade é o que está a faltar agora.
-E como vê o momento do Milan?
- Faz-me lembrar o Chelsea, perdeu o rumo. No papel, a equipa parece boa. Ganhar a Supertaça pode ter criado uma falsa confiança, mas o progresso real nunca se seguiu. Assim como o Paris Saint-Germain antes de se reestruturar, o Milan parece preso entre estilos. Vejam o PSG agora: um treinador com uma filosofia clara, jovens jogadores da academia com hipóteses de se mostrarem– e eles estão a apresentar um futebol brilhante. O Milan também precisa disso. Um regresso às suas raízes, ao ADN do futebol pelo qual eram conhecidos.
- Qual é a sua opinião sobre o treinador do Manchester United, Ruben Amorim?
- É sempre muito difícil chegar a meio da temporada. Não se pode mudar muito e há um risco enorme que essa opção prejudique a sua reputação. E eu compreendo, porque nunca sabemos se o comboio volta a passar e ele pensou ‘ tenho de apanhar este’. Amorim merece ser julgado na próxima temporada, depois de ter tido uma pré-temporada completa, de escolher jogadores que quer, mandar embora aqueles que não gosta e fazer a sua equipa. Até lá é preciso ter paciência.