
O treinador português Ricardo Soares regressa no sábado ao Estádio dos Trabalhadores, em Pequim, agora como técnico do Changchun Yatai, para defrontar o Beijing Guoan, clube que orientou durante 18 meses e pelo qual mantém "enorme carinho".
"É sempre uma grande alegria regressar. Estive 18 meses aqui, fiz amigos em todos os departamentos do clube, que guardo com muito carinho", disse o técnico, de 50 anos, numa entrevista à agência Lusa, a partir de um hotel no leste da capital chinesa.
Soares garantiu, porém, que durante os 90 minutos o profissionalismo falará mais alto: "O meu grau de exigência estará seguramente acima de qualquer sentimento".
O treinador, natural de Felgueiras, regressou em maio ao campeonato chinês para uma missão diferente daquela que teve no Beijing Guoan, um dos gigantes do futebol na China, entre 2022 e 2023.
O Changchun é atualmente o último classificado na Superliga Chinesa, com apenas cinco pontos, à 13.ª jornada.
Ricardo Soares reconheceu que "a situação não é a melhor", mas mostrou-se confiante na recuperação: "Acredito plenamente que vamos conseguir dar a volta. O compromisso dos jogadores é extraordinário. O primeiro passo é ter consciência do momento. E todos temos".
Desde a sua chegada, a equipa técnica, composta por mais cinco portugueses, beneficiou da paragem de três semanas no campeonato para implementar as suas ideias. "Hoje, a equipa está mais preparada para ser competitiva do que há um mês", assegurou.
Soares elogiou as condições de trabalho no clube do nordeste da China, destacando "a academia fantástica" e "a organização exemplar, ao nível dos melhores de Portugal".
O futebol na China está a reerguer-se após anos de gastos insustentáveis, com estrelas como Alex Teixeira, Hulk, Carlos Tévez ou Ricardo Goulart a rumarem ao país, em contratações avaliadas em dezenas de milhões de euros e beneficiando de salários sem precedentes, mas que resultaram na falência de dezenas de clubes durante a pandemia da covid-19, que ditou o encerramento das fronteiras e paralisou a atividade económica.
Durante aquele período, a competição foi disputada em estádios vazios e vários jogos foram adiados durante semanas ou meses. Devido aos bloqueios rigorosos, os jogadores permaneceram retidos em hotéis e várias estrelas estrangeiras não conseguiram regressar do exterior, acabando por ser dispensadas.
Pequim tem grandes ambições para a modalidade e Portugal tornou-se um parceiro fundamental: centenas de treinadores portugueses rumaram a este país asiático na última década, alguns contratados por clubes e outros integrados no sistema de ensino. No sentido oposto, dezenas de jovens jogadores chineses integraram a formação de equipas portuguesas.
Ricardo Soares disse ter um vínculo com a China que vai para além do aspeto financeiro: "Recusei propostas mais vantajosas de clubes de outros países", contou.
"Há o lado sentimental e o lado que, para mim, é muito importante, que é a minha felicidade interior. Eu queria vir para cá, estou a treinar onde quero, estou feliz", realçou.
O técnico disse identificar-se com a cultura chinesa, que é de "grande respeito e fornece as bases que permitem fazer um bom trabalho".
Sobre o Beijing Guoan, Soares recordou que deixou a equipa "altamente preparada para lutar por títulos" e acredita que o trabalho desenvolvido durante o seu mandato teve reflexo na época atual.
O clube está atualmente no terceiro lugar, a seis pontos do primeiro classificado, o Shanghai Shenhua, mas com menos um jogo.
"Foi um trabalho árduo, sempre a pensar no futuro, nunca em benefício próprio", vincou.