
No passado dia 3 de Abril, Renato Sanches contraiu uma lesão muscular e devemos admitir que esta já não é uma notícia surpreendente, mas igualmente não deve ser tida como normal e ser encarada de ânimo leve pelos responsáveis do clube encarnado.
Na sua primeira titularidade do ano, num jogo de médio grau de exigência (pois o Farense é uma das equipas mais débeis do nosso campeonato), os músculos de Renato cederam novamente ao ritmo que requer um jogo de alta competição.
Os jogadores explosivos como o Renato Sanches e devido à zona do terreno onde atuam, estão mais expostos a este tipo de lesões, mas no caso do médio internacional português, é apenas mais uma das enésimas lesões que tem tido nos últimos tempos.
Lesões essas que fazem com que o jogador não consiga ter uma sequência de jogos que lhe permita retomar os índices de confiança, que o possam aproximar de um rendimento desportivo condizente com as suas enormes qualidades.
Nesse jogo do presente mês contra o Farense, o internacional português foi substituído ao intervalo e agora sabe-se qual o tempo de paragem (entre seis a oito semanas). Poderemos afirmar que muito provavelmente estes foram os últimos jogos de Renato pelo “seu” Benfica nesta sua segunda passagem pelo clube.

O médio está emprestado pelos franceses do PSG até ao final da temporada e tem cláusula de opção de compra no valor de 10 milhões de euros.
Dado o seu histórico de lesões, é difícil acreditar que o Benfica (por mais carinho que tenha por um dos meninos bonitos que saiu da sua academia do Seixal) vá avançar para a contratação definitiva de um jogador que não dá nenhumas garantias de uma continuidade e produção minimamente aceitáveis para um clube da dimensão do Benfica.
O treinador Bruno Lage acredita muito no seu potencial, e considerou que poderia ser no Benfica que Renato iria conseguir encontrar de novo a sua melhor versão e que seria essencial para o desempenho da equipa.
Se tivesse terminado esse autêntico calvário de lesões do antigo Golden Boy, provavelmente o seu talento seria igualmente tido em conta para o atual selecionador nacional Roberto Martínez, e o seu contributo podia ser claramente uma mais-valia para a nossa seleção.
As qualidades de Renato Sanches continuam intactas. A sua técnica apurada, a sua visão de jogo, o remate de meia distância (em que já não aplica tanta potência para não forçar muscularmente), o seu transporte de bola. Tudo isso, Renato ainda consegue apresentar, mas por períodos muitíssimo curtos.

Nesta época, Renato acumula 416 minutos (!) de utilização. Jogou apenas 17 (1) dos 47 jogos oficiais disputados pelo Benfica até ao momento, o que é manifestamente insuficiente para que o clube encarnada invista na aquisição permanente dos seus serviços.
Com esta nova lesão, Renato Sanches irá perder mais de 40 (!) jogos oficiais, o que representa mais de metade dos jogos que o Benfica irá disputar nesta época, estando pendentes da eliminatória das meias-finais da Taça de Portugal com o Tirsense, onde é mais do que provável que o Benfica consiga levar de vencida um emblema (apesar da sua brilhante caminhada) que joga nas divisões secundárias do nosso futebol, e com isso, dificilmente o emblema das águias não estará presente na final do Jamor.
Mas mesmo que Renato seja dado como clinicamente apto, terá estado quase dois meses sem competir, e dificilmente o técnico Bruno Lage irá expor Renato Sanches para um jogo de uma exigência tão grande (com um mais que provável derby contra o Sporting, pois ganhou o jogo da primeira-mão da meia-final contra o Rio Ave de forma confortável).
Como fã das qualidades de Renato, tenho de ser honesto intelectualmente e coerente com aquilo que penso. Desse modo, não posso deixar de considerar um autêntico fracasso esta passagem de Renato pelo seu emblema do coração. Se calhar foi precisamente pelo fato de amar tanto o Benfica, que fez com que Renato forçasse a nota, e considerasse que já estava preparado para a exigência do futebol ao mais alto nível.
Mas aí a responsabilidade é igualmente da equipa médica do Benfica, que não tem gerido de uma forma bastante eficiente (e diria até competente) todo este dossier Renato Sanches, e todas as cautelas que deverão ser tidas para que não esteja sempre próximo de mais uma lesão muscular.

O seu físico tem sido autenticamente minado por lesões musculares, e com isso, Renato tem vindo a perder paulatinamente a sua influência no jogo, descido consideravelmente o seu valor de mercado e deixado de demonstrar todo o seu potencial.
Essas mesmas lesões musculares marcaram a sua passagem pelos franceses do PSG (onde nunca se conseguiu impor) e nos italianos da Roma na época transacta, onde jogou na qualidade de cedido e teve a oportunidade de ser treinado pelo português José Mourinho.
Mourinho chegou a admitir que gostava de dar mais sequência de jogos ao médio português, mas que infelizmente não o conseguiria fazer, porque Renato Sanches não conseguia ter uma sequência de cinco (!) jogos seguidos sem se lesionar.
E essa tem sido a triste sina do talentosíssimo médio português. Com constantes períodos de inatividade, é quase impossível que se volte a exibir a um nível próximo do que exibiu naquela época de 2015/2016.
Foi uma aparição fulgurante no futebol mundial, era um médio adaptado às características do futebol moderno, que já apresentava uma intensidade e uma inteligência de jogo absolutamente ímpar para alguém que nem um ano tinha de sénior, e que agarrou a titularidade da equipa encarnada e arrancou para uma época superlativa, culminada com o título nacional da equipa da Luz.
A sua erupção no futebol mundial foi de tal ordem, que antes mesmo de iniciar o Euro 2016, os alemães do Bayern Munique. Naquela altura, os bávaros pagaram um valor de 35 milhões de euros ao Benfica, que incluía um bónus de 45 milhões de euros dependendo das atuações do jogador.
Se eu tivesse que decidir uma figura daquela seleção campeã europeia no Euro 2016 (que não entusiasmou grandemente pela qualidade do seu futebol), escolheria Renato Sanches sempre e em qualquer circunstância.
Fomos campeões europeus por causa do Éder e das defesas de Rui Patrício? Sim, também fomos. Mas dificilmente conseguiríamos sair de Paris com o “caneco” se não fosse devido ao excelente contributo de Renato Sanches.

Nesse mesmo ano de 2016, Renato Sanches foi justamente o Golden Boy (prémio de enorme prestígio atribuído pela revista italiana Tuttosport para o melhor jogador jovem do mundo), e tinha o mundo do futebol aos seus pés.
Acredito que caso Renato tivesse pensado de forma mais fria e tivesse esperado pelo fim do Euro 2016, certamente também iria para um dos colossos do futebol mundial, mas dificilmente escolheria os alemães do Bayern Munique.
Não que o futebol alemão não se adequasse às características do talentoso médio português, mas naquele plantel do Bayern, estavam jogadores igualmente tão bons e muitíssimo mais experientes do que Renato Sanches, como o caso de Xabi Alonso, Arturo Vidal, Thiago Alcântara e Joshua Kimmich.
A sua dificuldade de adaptação ao futebol alemão foi gritante (à língua, ao clima, ao tipo de jogo, à exigência de uma equipa como a do Bayern), e nunca se conseguiu impor nem ter a continuidade necessária para um jovem que necessitava de manter os seus índices de confiança no auge para continuar a sua progressão.

Depois de um empréstimo falhado aos ingleses do Swansea, Renato voltou ao Bayern Munique, mas nunca conseguiu ser um jogador relevante no elenco da equipa alemã, tendo acabado por ser emprestado aos franceses do Lille a meio da época 2018/2019.
Foi nos franceses do Lille que um Renato mais maduro e experiente e sentindo-se figura principal da equipa, conseguiu voltar a demonstrar todo o seu inegável talento.
Foi nesses tempos do Lillie que Renato conseguiu ter uma sequência efetiva de jogos, na qual durante duas épocas (apesar de já começar a apresentar um número bastante elevado e anormal de lesões musculares), conseguiu jogar mais de metade dos jogos do campeonato e fez quase 40 jogos em todas as competições.
Nessas épocas e quando as lesões o respeitaram, o médio português foi inclusive uma das peças-chave para o inesperado, mas absolutamente meritório título da equipa francesa em 2020/2021, quebrando a hegemonia do todo-poderoso e multimilionário PSG.
Renato conseguiu exibir-se a grande nível em jogos cruciais dessas temporadas da equipa gaulesa, e quando o seu treinador Christophe Galtier foi contratado pelo PSG no Verão de 2022 para treinar o trio de luxo Messi-Neymar-Mbappé (que acabou por se revelar infrutífero e dececionante), este não hesitou em levar consigo o médio português, pois sabia perfeitamente aquilo que Renato poderia acrescentar à equipa.
Naquele momento estávamos em crer que o menino de ouro iria relançar a sua carreira, e voltaria a ser um dos melhores médios do mundo, estatuto do qual usufruiu em tenra idade (antes de completar 19 anos e como mencionado anteriormente) com uma época 2015/2016 de sonho ao serviço do Benfica, que culminou com uma prestação absolutamente sublime no Euro 2016, no qual Portugal sagrou-se campeão.
Mas infelizmente, esses vaticínios não se vieram a comprovar. Uma vez mais, as lesões a aparecerem no caminho de Renato Sanches, quando conseguia ter uma sequência minimamente apresentável de jogos.

Gostava muito de ser um daqueles que acreditam que Renato Sanches ainda poderá voltar aos seus tempos áureos.
Mas apesar de querer muito que isso aconteça (pois sou um fã incondicional do seu futebol), considero que o próprio Renato já percebeu que isso será extremamente difícil, e com isso o seu sorriso e célebre alegria de jogar têm-se desvanecido por completo.
O futebol moderno é cada vez mais pautado por meios-campos dotados de médios de grande explosividade e intensidade, e será quase um milagre pensar que o médio português possa acompanhar o ritmo que é exigido em alta competição.
Espero honestamente que esteja redondamente enganado, e que Renato Sanches consiga viver uma segunda juventude na sua carreira, demonstrando que a sua persistência e paixão pelo futebol ainda vai colher os seus frutos.
Ao Renato, estarei sempre grato por todas as alegrias que me proporcionou durante aquele Verão mágico de 2016.
O futebol precisa da irreverência e do sorriso de Renato Sanches. Se porventura isso não acontecer, estaremos perante o ocaso de um craque que viu o seu percurso indelevelmente marcado pelo infortúnio das lesões.