
Pedro Gonçalves perdeu o pai quando tinha apenas 2 meses. Fortaleceu os laços afetivos com a mãe e com o padastro João. E hoje, passada a tormenta das dificuldades, o agora craque do Sporting está orgulhoso por o futebol lhe ter permitido cumprir um dos sonhos da vida: oferecer uma casa à mãe.
«Sonhos? Tenho um sonho que é ser pai, e vou ser. Tinha um sonho que já cumpri que era ajudar a minha mãe, dar-lhe uma casa e já lhe dei», disse o camisola 25 do Sporting no programa «Alta Definição» da SIC, contando: «Por vezes sou uma pessoa fria, que não dá um abraço. Mas sei que vem da infância, houve fases em que chorei sozinho. O meu pai faleceu quando eu tinha dois meses. Não tenho memórias dele. A minha mãe disse-me que foi uma bactéria. Sentiu-se mal foi para o hospital e morreu, mas também nunca perguntei. Só tentei viver o dia a dia. Faz parte da vida, um dia temos de ir. Sei que era bombeiro, uma pessoa incrível que sempre tentou ajudar os outros e dizem que a minha personalidade é a dele. Sei que muitas vezes está a ver-me e falo com ele. Sei que é o meu pai, mas também tive um padrasto que fez tudo por mim e foi um pai para mim. A minha mãe teve uma depressão. Sempre estive presente e tenho memórias dela a chorar e isso tornou-me mais forte no futebol para a ajudar a ter uma vida melhor.»
As dificuldades com que teve de subir (muito) a pulso tornaram Pedro Gonçalves mais forte na difícil missão da afirmação: «A minha mãe trabalhou demasiado e em conjunto com o meu padrasto criaram quatro filhos. A minha mãe tinha três filhos, recebeu mais um do meu padrasto e foi uma ajuda para ela. Trato-o por João e sempre foi uma pessoa importante pois era o único com a carta de condução e fez um esforço enorme. Sempre tiveram de trabalhar muito para nos darem as melhores condições. A minha mãe foi uma escrava e espero que agora possa desfrutar um bocado da vida. Nunca me faltou nada. Quando ainda era jogador do Valência estava em Vídago perdi o telemóvel nos carrinhos de choque e contei à minha mãe a chorar. No dia seguinte apareceu o meu padrasto com um telemóvel novo e eu sabia que eles ganhavam o mínimo. Quando fui para o Sporting de Braga queria ter um computador e a minha mãe conseguiu pagar a prestações. Nunca me faltou nada.»
Na entrevista ao «Alta Definição» Pedro Gonçalves emocionou-se ao recordar os tempos em que o futebol era o caminho para uma vida melhor. «A minha mãe trabalhava no Vidago, morávamos com o meu padrasto no estádio, na casa dos roupeiros. Esperava que os jogadores chegassem e deixavam-me bater umas bolas com os guarda-redes. Diziam que era atrevido pois aos oito anos jogava com homens de 30. Eles treinavam à noite e eu ficava a jogar até o presidente ligar para a minha mãe a dizer que tinham de desligar as luzes por causa da conta. Às vezes o meu irmão ia à baliza. Eu acho que até foi guarda-redes por minha causa. Ele nem gostava. Foi uma fase da minha vida muito boa pois era só diversão e jogar futebol.»
Nesses tempos de infância e adolescência bons, mas difíceis, já tinha ao lado Bruna. Primeiro como melhor amigos, durante dois anos na escola, e depois como namorados. «É uma história bonita de dois adolescentes que se apaixonaram. Sozinho não sei se conseguia estar onde estou hoje. A Bruna ajudou-me a ser sentimental. É simplesmente incrível. É a mulher da minha vida», reforçou Pedro Gonçalves sobre a mulher com quem vai casar este ano pelo civil e para o próximo ano pela igreja, com uma festa para os amigos e família. Após serem pais.
Conseguir gerar vidas é o desejo que quem quer ser um pai «divertido e alegre», até porque sabe que Bruna será «uma mãe galinha».
Orgulhoso do caminho que fez até ao dia de hoje, em quem completa 27 anos de vida. « Houve um momento em que temi que não ia chegar a um clube como o Sporting. Pensei que ia fazer uma boa carreira em equipas de Liga, mas nunca pensei ser campeão ou chegar à Seleção Nacional. Tive as pessoas certas do meu lado que me aconselharam da melhor maneira e tomei as melhores decisões. Sinto-me a pessoa mais realizada do mundo, porque estou a conseguir conquistar as coisas que eu sempre sonhei. Sinceramente estar aqui para mim já é um orgulho imenso, porque adorava ver este programa e estar neste programa... Não acredito que cheguei aqui. Cheguei aqui por ser campeão e não consigo mostrar o quão difícil foi... Isto não se chega aqui e agora é tudo um mar de rosas. Continua a ser difícil todos os dias...»
Disse, entre lágrimas, o menino que saiu de Vidago aos 12 anos e já conquistou o mundo. Pelo menos o mundo dos que são do Sporting.