Podia ter sido em nome do pai Rui; da mãe Susana, ou do avô Carlos, todos eles antigos atletas de eleição. Mas foi em nome próprio que Patrícia Silva correu para alcançar o terceiro lugar na prova dos 800 metros dos Mundiais de Pista curta de Nanjing, na China, que ontem chegaram ao fim, pintados de bronze para Portugal.

E apesar do pesado legado desportivo familiar, com o qual Patrícia há muito deixou de se preocupar, foi a avô Maria do Rosário que a atleta de 25 anos levou bem junto ao coração, escrito no verso do dorsal, sem pensar que iria partilhar esse gesto com o mundo.

«Só queria levá-la comigo, não tinha a intenção de mostrar, porque só quando se ganham medalhas é que se partilham estas coisas. Claro que levei também levei os meus pais, o meu namorado e todas as pessoas que me apoiam todos os dias e não deixam desistir, mas esta vitória é para a minha avó, que eu sei que está comigo, apesar de já não está entre nós», declarou no final, emocionada.

Foi, portanto, com a avó junto ao peito que Patrícia Silva bateu o seu próprio máximo, tornando-se na primeira mulher portuguesa a correr os 800 metros em pista coberta em menos de dois minutos, colocando o novo recorde nacional em 1.59,80 minutos. Fê-lo apesar de não ter partido tão bem como as adversárias. Conseguiu-o, ultrapassando duas adversárias na reta da meta, batendo por um centésimo a suíça Audrey Werro, mesmo admitindo que se sentia «toda rota» nos últimos metros.

«Estava na linha de partida a olhar para o slogan 'Nanjing where athletes dream' [Nanjing onde os atletas sonham] e eu estava a sonhar, superfeliz por estar nas seis melhores. Se fosse a Patrícia de há uns tempos, o facto de não ter conseguido partir ao mesmo ritmo que elas, teria ficado fora da corrida. Consegui superar isso, pensei que consigo correr tão rápido como elas por isso, quando elas começassem a cair e eu começasse a crescer, estaria perto delas», descreveu, confessando que foi com tudo atrás do sonho.

«Consegui manter a cabeça fria. Fui conseguindo apanhar uma e outra, vi o grupo da frente e acreditei. Nos últimos 100 metros, já estava toda rota, mas eu queria tanto, que foi só abrir o coração. Por isso, quando vi que estava no 3.º lugar fiquei mesmo em alegria total», descreveu.

Revelou-se, assim, acertada a opção tomada por Patrícia Silva de abdicar de correr os 1500 metros, ela que há duas semanas tinha ficado no 7.º lugar nos Europeus de Apeldoorn2025, para apostar tudo na distância que é a sua especialidade. O título mundial foi conquistado pela sul-africana Prudence Sekgodiso (1m58s40), ficando a prata para a etíope Nigist Getachew (1m59s63).