Nos últimos anos tem-se verificado um aumento significativo dos orçamentos das equipas de ciclismo e os corredores do WorldTour, a primeira divisão mundial, com crescimentos acentuados tanto na competição masculina como na feminina.
Evolução que reflete a crescente popularidade da modalidade, mas que tem trazido o reverso da prosperidade, com a acentuação dos desequilíbrios financeiros, em que uma elite de equipas muito mais endinheiradas pode dispor de planteis e de recursos diversos – staff técnico, nutricional, tecnológico – muito mais apetrechados do que a demais concorrência, aprofundando discrepâncias na competitividade das corridas.
De acordo com um relatório exclusivo publicado na Gazzetta dello Sport, o orçamento total das equipas masculinas da principal divisão do ciclismo aumentou quase 34% entre 2021 e 2025, de 373 milhões de euros para 570 milhões de euros.
O orçamento médio das equipas masculinas do WorldTour também aumentou, atingindo os 32 milhões de euros, mais 4 milhões de euros em relação ao ano anterior.
Este aumento deve-se em grande parte aos investimentos de grandes patrocinadores como o Lidl (com a Trek), Decathlon (AG2R La Mondiale) e a Red Bull (BORA-hansgrohe), com realce para esta última formação, que deverá ter um orçamento de 50 milhões em 2025.
Os salários dos corredores do WorldTour também estão a subir de modo consistente, com um valor médio estimado em 501.000 euros para 2025. Aumento substancial de 50.000 euros face ao corrente ano (449.000 €). Em quatro anos (2021-25), estima-se que a crescimento médio percentual dos ordenados dos ciclistas atinja 25 pontos, no montante de 128.000 €.
No entanto, a evolução tem implicado uma crescente disparidade salarial entre as grandes estrelas do pelotão, como o esloveno Tadej Pogacar, auferindo um salário de cerca de 8 milhões de euros nos próximos seis anos na UAE Emirates, ou o belga Remco Evenepoel, que recebe 6 milhões na Soudal Quick-Step, valores bastante superiores à média.
O WorldTour feminino também está a registar crescimento impressionante nos orçamentos das formações, que duplicaram para atingir os 70 milhões de euros em 2025, indicador da expansão exponencial do ciclismo feminino, mas também das diferenças de valorização entre géneros na modalidade.
Transferências relevantes, envolvendo cifras sem precedentes, como a da neerlandesa Demi Vollering para a equipa francesa FDJ-Suez, e o aumento do investimento em equipas femininas da SD Worx-Protime e da Visma | Lease a Bike, testemunham o crescimento do ciclismo feminino, com o interesse crescente de patrocinadores.
No entanto, o rápido aumento dos orçamentos levanta questões sobre a justiça financeira no ciclismo profissional. A União Ciclista Internacional (UCI) está a considerar a introdução de limites orçamentais para evitar disparidades excessivas entre equipas e garantir uma competição mais equilibrada.