
André Reis tem 37 anos e candidata-se à presidência da Associação Nacional de Treinadores de Futebol (ANTF) em rutura assumida com a direção dos últimos anos. Defende que a entidade não pode estar dependente das decisões de terceiros no que diz respeito aos cursos de treinadores, que tanta polémica têm causado nos últimos anos pela falta de vagas que responda à procura que é feita.
- O que o fez avançar para a presidência da ANTF?
- Surgiu numa conversa entre amigos, quando analisávamos qual de nós tinha mais probabilidades de entrar num curso UEFA A, ou em UEFA PRO, olhando para os critérios de admissão. E chegámos à conclusão que ninguém entrava em nenhum deles, apesar de alguns até termos experiência em campeonatos nacionais, no meu caso até experiência em uma seleção nacional. Mas em Portugal não havia hipótese. E essa análise foi feita porque efetivamente queríamos ir tirar o nível III.
- A dificuldade em entrar nos cursos de treinadores esteve na base, portanto.
- Sim. Essa conversa surgiu quando o João Pereira assumiu a seguir ao Ruben Amorim. E depois lembrámo-nos do Silas, do Moreno, do próprio Amorim, e por aí fora. E isso deu força a uma ideia que eu já tinha de analisar a viabilidade de uma candidatura à ANTF. Fizemos alguns contactos, entendemos que havia condições para criar uma alternativa à lista que na altura até pensávamos que seria da recandidatura do José Pereira. Ao saber quem seria o candidato, percebemos que era uma lista de continuidade, o que nos motivou ainda mais.
- Que tipo de rutura pretende implementar?
- O caminho a seguir tem de passar pelo aumento das vagas dos cursos de treinadores em Portugal. Defendemos a necessidade de capacitar a própria ANTF para lecionar autonomamente os cursos UEFA A e UEFA Pro. Temos perfeita noção que isto não é uma decisão exclusiva da direção. Sabemos que não podemos chegar e no dia a seguir passar a lecionar os cursos.
- É preciso garantir licenças…
- Exatamente. É algo que carece de diálogo com a FPF, com a UFA e com o IPDJ. Mas a ANTF tem de ter propostas de soluções claras, que neste momento não têm, que o Henrique Calisto e a Lista A não as apresentam. Nós entendemos ter as soluções certas.
- Sente que não tem sido feito o diálogo necessário para encontrar soluções?
- Não, esse diálogo não tem sido feito. Atualmente, temos claramente uma posição de subserviência da ANTF perante a FPF, que define tudo. E a ANTF diz: ‘com certeza, é assim que vamos fazer’. E depois, basta olharmos para o que aconteceu com o Ruben Amorim e o João Pereira: a postura que a direção da ANTF assumiu, acusando e perseguindo a classe. O sindicato serve para proteger os interesses dos trabalhadores. Sejam associados, ou não. Se alguém tem de acusar que sejam outros, nunca o sindicato. Um treinador que é escolhido pelo clube não tem culpa de ser escolhido pelo clube, tenha habilitação ou não.
- Quais são as propostas da sua lista para solucionar a questão?
- Temos duas propostas de solução, que até são complementares entre elas. Uma é muito simples: alterar o regulamento de competição, o que carece novamente de diálogo com a liga e a FPF. O que defendemos é que, em vez de obrigar o treinador principal a ter o nível 4 UEFA-PRO, que um elemento da equipa técnica deve ser detentor desse nível.
- Que é o que acontece como subterfúgio…
- Exatamente. E assim não estaríamos a enganar ninguém, mas a criar uma solução transparente. Já que é isso que é feito na prática, que seja isso a norma. E isso não custa assim tanto, basta mudar duas vírgulas está o assunto resolvido.
- E qual a outra solução?
- Em complemento a esta solução, a minha ideia é ter um acordo multilateral entre o treinador sem qualificação para treinar naquela competição, a tutela da competição e a tutela da formação, que espero que venha a ser a ANTF. Se não for a ANTF, entraria neste acordo também a ANTF, quase que enquanto garante de cumprimento das obrigações do treinador.
- E no que é que consistiria este acordo?
- O treinador que tenha o grau imediatamente inferior ao necessário para a competição compromete-se a frequentar o próximo curso que abrir: a tutela da competição autoriza que o treinador se inscreva na competição com os mesmos direitos de um que já tenha a qualificação necessária; e a tutela da formação garante a este treinador uma vaga supranumerária no curso seguinte que abrir.
- Sente que os treinadores mais jovens estão afastados da ANTF?
- Sem dúvida. Por isso queremos encaminhar a ANTF para uma estrutura mais moderna e atrativa que responda às necessidades dos treinadores. Porque muitos dizem-me que não são sócios porque a associação nunca está lá quando eles precisam de ajuda. O que persiste é a impressão de que a ANTF só aparece quando há problemas com os treinadores, e não é para os resolver. É para os complicar ainda mais!
- O caso de Ruben Amorim foi o mais mediático. Foi denunciado pela ANTF por não ter curso…
- Sim. O sucesso que Amorim teve nessa luta apenas reforça aquilo que nós defendemos, que o papel da ANTF não é o que está a ser assumido, e que continuará a ser assumido caso Henrique Calisto vença as eleições. O que se auspicia é que as políticas que eram seguidas até agora continuem a ser exatamente as mesmas.
- Acha que esta é também uma luta geracional?
- Não, não é uma luta geracional, porque nós também temos treinadores da mesma geração do Henrique Calisto e do professor Neca. Nomeadamente, o Guilherme Farinha, o Mariano Barreto, o José Dinis. Não é uma luta geracional, mas é uma luta de pontos de vista geracionalmente diferentes. O nosso mais abrangente, porque temos candidatos desde os 25 anos de idade até aos 69 anos de idade, enquanto a outra lista é composta por treinadores de uma faixa etária tendencialmente superior a 55 anos.