A 34.ª jornada da Liga Portugal vai definir o campeão nacional e o campeão da Liga dos Últimos. Sendo que ainda nenhuma equipa desceu antes da última jornada, é seguro afirmar que Boavista, Estrela da Amadora, Farense e AFS protagonizaram campanhas de bonita homenagem ao eterno ‘Vítor do Poste’.

A temporada destas equipas foi marcada por decisões fora de campo controversas e planeamentos pouco duradouros. Foi assim com AFS e Estrela, que tentaram juntar nomes jogadores experientes na nossa liga numa salada intragável.

No caso do clube que nasceu em 2023 através da reestruturação do Vilafranquense, são quatro os treinadores que passaram pelo clube esta época: Vítor Campelos começou a época ao leme do clube, mas foi despedido após 12 jornadas, sucedeu-lhe Daniel Ramos e mais tarde Rui Ferreira, sendo que ambos apenas fizeram 11 jogos ao serviço do AFS. Numa tentativa desesperada de se manter vivo na elite do futebol português, o AFS anunciou a contratação de José Mota para as duas últimas jornadas, sendo que já venceu uma delas.

O Estrela da Amadora até começou a época com um projeto que parecia promissor, juntando um plantel com nomes já conhecidos do futebol português, como Alan Ruiz, Jovane Cabral e Ferro com a juventude de Diogo Travassos. Orientados por Felipe Martins, treinador de provas dadas na Liga Portugal, o projeto prometia, mas tudo desabou ao fim de seis jogos com o despedimento do treinador.

José Faria assumiu o posto e rapidamente se envolveu em polémica com a Associação de Treinadores, uma vez que esta considera que a sua licença UEFA B (Grau II) é insuficiente para orientar um clube da primeira divisão portuguesa. Ainda assim, o Estrela mantém José Faria no cargo.

Nada explica a efemeridade de projetos na Liga Portugal tão bem como estes dois casos. Ambos abriram mão de treinadores cotados em prol da sobrevivência ou da esperança da mesma. Fica claro que o objetivo de ambos os clubes desde o início é a manutenção, e é um objetivo realista tendo em conta a realidade dos clubes, porém talvez tivessem conseguido a manutenção sem sabotarem o seu futuro a médio prazo.

Percebe-se que tanto José Faria como José Mota são soluções de recurso, creio que dificilmente algum dos clubes irá manter o seu treinador para a próxima temporada, tanto em caso de descida como de manutenção. A confirmar-se a descida, o objetivo passará por voltar rapidamente à primeira divisão; por outro lado, se conseguirem a manutenção, provavelmente tentarão apostar num treinador que consiga dar a garantia de se manter na primeira divisão e evitar a luta pela manutenção- que é exatamente o cenário em que estas equipas começaram a temporada 2024/ 2025, no entanto, isso não se torna uma realidade se um treinador que pode dar resultados a médio/ longo prazo não tem mais que dois meses para trabalhar.

No mesmo cenário também estava o Nacional, que manteve a confiança em Tiago Margarido e evitou uma luta pela manutenção até à última jornada, e esta não é uma realidade assim tão descabida- os plantéis da última linha da Liga Portugal são bastante semelhantes entre si, é necessário alguém que consiga ligar os fios. Claro que é fácil acertar no Totobola à segunda-feira e alguém tem que acabar por descer, mas acredito que tanto o Estrela como o AFS tivessem tido campeonatos mais tranquilos se tivessem mantido a confiança tanto em Felipe Martins como em Daniel Ramos.

Ainda sobre José Mota, que começou a época no clube de Faro, mas apenas até ao final de setembro, dando o lugar a Tozé Marreco. Depressa se percebeu que a temporada do Farense seria longa, mesmo com a capacidade de ataque direto e transacional que a equipa tem, dispondo de jogadores com características para tal como Poveda e Rony Lopes.

Junta ainda a experiência de Rui Costa e Marco Matias, bem como um trinco sólido como Cláudio Falcão. Ainda assim, faltou sempre definição ao ataque do Farense e foi sempre instável defensivamente, sendo uma das maiores lacunas da equipa. De memória, ficam as boas exibições no Estádio da Luz e a mais recente vitória no D. Afonso Henriques, onde o plano de Tozé Marreco surtiu efeito.

Já o Boavista adia como pode a descida à segunda divisão: entre dívidas e um plantel de qualidade insuficiente para a primeira divisão, junta-se um clube pobre e uma pobre equipa. Resta apenas o colossal Estádio do Bessa e o coração tanto de quem joga como de quem treina e também de quem apoia. Na verdade, vale a pena enaltecer a forma como Bacci e Seba Pérez assumiram a situação do clube e como lutaram contra a maré. O Boavista, tal como o Farense, já provou ter muitas vidas e toda a esperança recai em Stuart Baxter para assegurar, pelo menos, o acesso ao play-off de manutenção.

Na decisiva jornada, o Estrela terá uma difícil deslocação ao António Coimbra da Mota enquanto que o AFS recebe o Moreirense. Note-se que, atualmente, o Estrela tem 29 pontos no campeonato e o AFS conta com 27, sendo que o AFS tem vantagem sobre o Estrela no confronto direto após os eventos da última jornada. Ou seja, caso o Estrela empate e o AFS vença, o AFS ultrapassa o Estrela na tabela e deixa-os no play-off de manutenção. É certo que tanto o Moreirense como o Estoril apenas jogam para cumprir calendário, mas também é verdade que os seus plantéis e rotinas de jogo são superiores a AFS e Estrela da Amadora. Acredito, no entanto, que o AFS consiga a vitória em casa, mas tenho dúvidas em relação a que faceta do Estrela da Amadora iremos ver no jogo frente ao Estoril.

O Boavista tem uma deslocação igualmente complicada, defrontando o Arouca na sua casa. De igual modo, o Arouca já não tem objetivos na Liga Portugal, mas o conjunto de Vasco Seabra é muito hábil com bola. A grande vantagem do Boavista e o fator que os mantém vivos na Liga Portugal é o facto de terem vantagem no confronto direto tanto com Farense como com AFS; por isso, é possível que o Boavista ainda dispute o play-off de manutenção em caso de vitória frente ao Arouca e derrota do AFS e Farense. Realisticamente, não creio que o Boavista tenha condições para vencer o seu jogo, mas a quantidade de vidas que a pantera já mostrou ter gera-me dúvidas quanto a tal.

Em piores trabalhos está o Farense, pois o seu adversário é o único destes quatro que ainda tem aspirações realistas na Liga Portugal. A equipa de Tozé Marreco recebe o Santa Clara que, se vencer em Faro e o Vitória SC não ganhar em Alvalade, qualifica-se para a próxima edição da Conference League.

A última jornada da Liga Portugal será decisiva para ambos os extremos da tabela. Pela posição que ocupam na tabela, por questões de critério de desempate, pelo futebol que demonstraram até agora e pelos jogos da última jornada, creio que o cenário mais provável é o de AFS garantir a manutenção direta, o Estrela jogar play-off e Farense e Boavista descerem diretamente. No entanto, numa fase tão crucial da temporada, conta mais o coração do que a cabeça e a lógica de pouco ou nada vale quando a bola é posta em jogo.