Roberto Martínez, treinador da Seleção Nacional, fez a análise à vitória de Portugal frente à Alemanha, que carimbou a passagem à final da Liga das Nações. O técnico descreveu o triunfo como «histórico», utilizou os dados para definir o percurso que leva na Seleção nestes dois anos e meio e afirmou que Vitinha merece a Bola de Ouro.

— Vitinha começou no banco. Patrocinaria uma candidatura de Vitinha à Bola de Ouro?

— Uma coisa é o que o Vitinha está a fazer esta época. Para mim, sem dúvida. É um jogador que foi essencial para que o PSG ganhasse tudo o que ganhou. Acho que pelo estilo e a eficácia do Vitinha, ele merece ser Bola de Ouro. Em relação ao jogo, já falei ontem que é importante avaliar todos os jogadores e equilibrar a equipa. Para nós, era muito importante começar bem, porque a Alemanha joga com muita intensidade, em casa, muito dinâmica. Mas precisávamos de terminar o jogo bem. Fizemos isso muito bem. O João Neves jogou uma hora a alto, alto nível, o Nuno Mendes jogou todo o jogo mas, para prolongamento, era difícil poder jogar. O Gonçalo Ramos estava bem e o Vitinha, para nós, era importante entrar e terminar o jogo. Podia ser os minutos que jogou ou também um prolongamento. Portugal precisa de ser flexível taticamente - fizemos isso - e de ser uma equipa com mais de 11 jogadores. Hoje, o Nélson Semedo, o Chico Conceição e o Vitinha entraram e acrescentaram e ajudaram muito a terminar o jogo. Depois, temos o Diogo Jota, o Palhinha... Durante o Euro, senti que precisávamos de mais jogadores. Hoje, mostrámos que podemos jogar olhos nos olhos com uma equipa como a Alemanha, mas depois podemos acrescentar durante o jogo com as trocas e com conceitos táticos diferentes.

— A chave desta vitória está na reação da equipa após sofrer o golo e na intensidade durante 40 minutos? Como explica isso nesta altura da época, em que os jogadores estão tão esgotados e cansados?

— Já falei do compromisso dos nossos jogadores, adoram jogar por Portugal. Quando temos clareza, a intensidade faz parte do nosso desempenho. Gostaria de dizer que hoje foi taticamente um desafio importante. A Alemanha arrisca, abre o jogo, cria situações de 1 contra 1. Era um desafio psicológico. Estamos a falar de jogar contra a Alemanha. Fora. Falou-se muito dos últimos cinco jogos entre Portugal e Alemanha e a última vitória foi há 25 anos. Depois, acho que o golo sofrido não é um golo merecido. Não percebo o porquê de não ser fora de jogo. O aspeto psicológico foi essencial. Ter uma reação, acreditar muito no que estamos a fazer, jogar olhos nos olhos, arriscar, tudo isto precisa de intensidade. A resposta intensa é porque a clareza tática foi muito bem executada. É o trabalho de dois anos e meio, não de dois dias. Fico muito satisfeito e muito orgulhoso, porque foi um desafio psicologicamente enorme. Mostra o trabalho que os jogadores estão a fazer durante os últimos dois anos e meio.

— O que é que será melhor para Portugal? França ou Espanha?

— Não falei disso antes porque acho que era importante focar neste jogo. Era uma meia-final, com a Alemanha. Preparar um jogo em dois dias é muito difícil. Agora é o contrário. Temos mais 24 horas de descanso, é uma vantagem muito boa. Estamos a falar da França, uma equipa campeã do Mundo, e a Espanha, campeã da Europa. Acima deles não há. O desafio é enorme mas é o que podemos fazer. Fiquei muito, muito satisfeito por podermos ganhar na Alemanha, frente à nossa comunidade de emigrantes, que acho que merecia muito mais durante o Europeu. O adversário, seja ele qual for, será um bom adversário.

— Há 40 anos que Portugal não ganhava à Alemanha em solo alemão. Qual é a importância desta vitória?

— Foi um jogo histórico, com muita exigência psicológica. Dou os meus parabéns ao mister Humberto Coelho, porque falamos muito do jogo com a Alemanha de há 25 anos. Acho que o aspeto psicológico é essencial. É uma vitória merecida. Acho que a Alemanha não teve controlo do jogo, tivemos controlo e melhorámos na segunda parte com oportunidades de golo. É uma vitória para analisar, mas é uma vitória histórica para ficar na memória dos nossos adeptos e do futebol português.

— O Roberto Martínez disse que as opções são subjetivas no futebol. Qual é a sua opinião no seu percurso na seleção portuguesa e sobre o jogo de hoje?

— Não gosto de falar. Podem olhar para a Seleção com maior percentagem de vitórias das últimas décadas. O maior número de golos, de pontos. Esses são os dados. Depois, a flexibilidade, o compromisso que esta equipa tem... Podemos jogar melhor, pior, mas o compromisso é máximo e lutamos pela vitória. As opiniões são subjetivas, podem ter a sua razão. Mas, para nós, o desempenho de hoje mostra a qualidade e o que temos no balneário.

— Ronaldo levava cinco golos em cinco jogos contra a Alemanha. Havia alguma motivação extra?

— Não me parece. Ele quer melhorar constantemente. Não perdeu a fome e isso é contagioso. É incrível. Não são os recordes que o movem, é ter a oportunidade de, a cada dia, tornar-se melhor. Isto é muito difícil de conseguir.