
Para milhões de adeptos por todo o mundo, o futebol é uma forma de escape e até de terapia face a problemas que enfrentam noutros capítulos da vida. Ainda assim, este sentimento não é exclusivo dos espetadores e estende-se mesmo aos protagonistas da «coisa mais importante das menos importantes».
A frase atribuída a Arrigo Sacchi ajuda a explicar a trajetória de vida de um dos treinadores em maior destaque final de época: Luis Enrique.
Já depois de uma carreira notável como médio ao serviço de Barcelona e Real Madrid e de conquistar uma UEFA Champions League como treinador dos blaugrana em 2016, a 29 de 2019, Enrique anunciou o falecimento da filha Xana, com apenas 9 anos.
A terceira filha do técnico espanhol lutava contra um cancro nos ossos, que motivou a despedida provisória de Luis Enrique da seleção espanhola. Apesar da vida do técnico ter dado uma volta de 180 graus, abandonar os bancos de suplentes de forma definitiva nunca foi uma opção.
Seis anos depois do momento mais difícil da vida, o técnico espanhol atingiu a final da UEFA Champions League pela segunda vez na carreira, precisamente dez anos depois da primeira, que conquistou ao comando do Barcelona frente à Juventus (3-1). Luis Enrique continua a ser o último treinador a levantar a "orelhuda" ao serviço dos blaugrana.
Nessa final, disputada em Berlim, ficaram célebres as imagens do técnico e da filha a dançar dentro das quatro linhas. Dez anos depois, Luis Enrique não esquece esse momento: «Recordo uma foto incrível que tenho com ela na final de Berlim depois de ganhar dela a colocar uma bandeira do Barcelona no relvado. Tenho o desejo de fazer o mesmo com o PSG.»
O técnico espanhol já garantiu que Xana estará presente em Munique: «Não estará fisicamente, mas espiritualmente de certeza. É muito importante e tenho motivação para continuar. Tenho a certeza que a minha filha continua a fazer a festa.»
Mesmo depois da dor do luto, Luis Enrique já afirmou que se considera «um sortudo» por ter vivido «nove anos maravilhosos» na companhia da filha. O técnico espanhol frisa que Xana continua presente todos os dias em vídeos, fotos e nas memórias que apenas ficam guardadas nas gavetas da mente.
Muitas streams, ainda mais atletismo e poucas entrevistas
Asturiano de gema, Luís Enrique tornou-se apenas no terceiro jogador a trocar o Real Madrid pelo Barcelona em 1996. Quando se retirou no final da época 2003/04, o antigo médio era um dos favoritos das bancadas blaugrana, num amor que perdura ainda hoje.
Após o final de uma carreira de 14 anos ao mais alto nível, abrilhantada por duas participações em Mundiais e outras tantas em Europeus, Luís Enrique não quis parar de praticar desporto.
Depois de terminar as maratonas de Nova Iorque, Amesterdão e Florença, em 2007, o antigo médio completou a prova ironman em Frankfurt, composta por 3,86 quilómetros de natação, 180 de bicicleta e o equivalente a uma maratona.
Mesmo depois de começar a carreira de treinador em 2008 no Barcelona B, Luis Enrique não pendurou a bicicleta e os ténis de corrida. Em 2013, antes de assumir o comando do Celta de Vigo, o técnico percorreu três subidas das Dolomitas, cadeia montanhosa nos Alpes Italianos.
Mais recentemente, em 2022, terminou a Cape Epic, prova de oito dias de ciclismo de montanha de 645 quilómetros, na África do Sul, aos 52 anos. Ainda assim, o técnico espanhol não pode utilizar a bicicleta para fugir aos jornalistas, um dos principais motivos de desconforto.
Pouco fã dos microfones desde os tempos de jogador, em setembro de 2024, Enrique disse mesmo que aceitaria um corte de 50% do salário para não falar com os meios de comunicação.
Em sentido contrário, o técnico é fã da twitch, serviço a partir do qual fez transmissões em diretos durante o Mundial 2022. Entre conversas sobre o dia-a-dia da equipa espanhola no Qatar, lições táticas ou reflexões da vida pessoal, a abertura e a personalidade leve de Luis Enrique saíram reforçadas.
O destino pregou-lhe partidas, mas também devolveu-o à final da principal prova do futebol de clubes mundial, dez anos depois do primeiro momento de glória ao serviço do Barcelona. Apesar de ter abandonado a cidade condal em 2017, Luis Enrique admite ter um carinho «que nunca desaparecerá» pelos blaugrana.
Da flexibilidade do ataque ao low profile dos protagonistas, o PSG que está a uma vitória do primeiro título é bem diferente do Barcelona de 2014/2015, mas ambas as equipas tocam-se no ponto mais importante: Luis Enrique pronto para fazer história.