
Das ruas poeirentas de Kawempe, um subúrbio degradado de Kampala, no Uganda, Khaman Maluach ousava sonhar com o impossível. Na noite de quarta-feira, o sonho tornou-se realidade. Aos 18 anos, o seu nome ecoou no Barclays Center, em Brooklyn, ao ser escolhido na 10.ª posição do NBA Draft 2025.
Começou a jogar basquetebol aos 13 anos, usando crocs. O talento levou-o à seleção nacional do Sudão do Sul, com participações no Campeonato do Mundo e nos Jogos Olímpicos. A emoção era visível no rosto do poste de 2,16 metros, que não conteve as lágrimas ao posar junto ao comissário da NBA, Adam Silver.
«Não esperava chorar», disse Maluach, acrescentando: «Toda a minha vida passou diante dos meus olhos. A minha jornada, a minha gente e o continente que represento. Acreditei em mim. Fui teimoso com os meus sonhos. Prova-se que é possível, por mais difíceis que as coisas sejam.»
O jovem usava um casaco especialmente desenhado para a ocasião, com as bandeiras do Sudão do Sul e do Uganda no forro. Em Entebbe, Uganda, onde vive a sua família, houve celebrações. A mãe, Mary, o irmão mais velho, Mayok, e os restantes irmãos dançaram e rezaram mal ouviram o seu nome. Mayok descreveu o momento como uma «benção» para a família e para África.
A família de Khaman Maluach planeava estar presente, mas os seus pedidos de visto foram rejeitados devido à proibição de viagens imposta pelos EUA aos cidadãos do Sudão do Sul. Apenas a irmã, Agum Madit, que vive na Austrália, conseguiu comparecer ao evento em Nova Iorque.
O seu treinador da Solid Skills Academy, em Kampala, Wall Deng, que o descobriu, não pôde comparecer. «Foi muito azar. Tirou-nos parte da nossa alegria», disse Deng, à BBC Sport Africa.
«Apesar de tudo, estamos muito orgulhosos dele. É como um sonho tornado realidade. Ver o quão longe ele chegou... é um momento de enorme alegria», referiu.
Após ser escolhido pelos Rockets e ser imediatamente trocado para os Suns, Maluach receberá um visto P1, concedido a atletas profissionais. Nascido em 2006, em Rumbek, no Sudão do Sul, Khaman Maluach refugiou-se com a família no Uganda para escapar à guerra. Cresceu com a mãe e seis irmãos em Kawempe. Um condutor de moto-táxi encorajou-o a jogar basquetebol devido à sua altura.
«O campo mais próximo ficava a uma hora a pé e eu nem sequer tinha sapatos», disse Maluach à BBC Sport Africa no ano passado.
O seu talento foi rapidamente reconhecido pelos treinadores Deng e Garang: «Ele aprendia muito depressa. Disse ao Garang que este miúdo ia ser alguém importante.»
Em apenas um ano, Maluach ganhou uma bolsa para a Academia NBA Africa, em Dakar, no Senegal. Aos 16 anos, jogava na seleção do Sudão do Sul, juntamente com Wenyen Gabriel, ajudando-a a qualificar-se para os seus primeiros Jogos Olímpicos.
«É um dia que nunca esquecerei», afirmou, após ser escolhido no NBA Draft. Maluach tem grandes ambições. Quer chegar ao Hall of Fame da NBA, tendo como modelos Antetokounmpo e Embiid.
«Acreditei em mim antes de qualquer outra pessoa», disse, completando: «Que Deus trate do resto.»