

O arranque da Fase Final da Primeira Divisão de Andebol apenas serviu para confirmar o favoritismo leonino. O Sporting CP venceu o SL Benfica, por 34-30, e voltou a assumir a liderança da prova. Em solo luso, fixam-se como favoritos a revalidar o título. Nos palcos europeus, são, indubitavelmente, a equipa sensação da Liga dos Campeões.
Mas esta predominância verde e branca não surgiu do dia para a noite. Trata-se do cultivo de um projeto estruturado com a devida antecedência, desde o recrutamento de peças para render no futuro. O resultado surpreendeu até o adepto que alvejava mais alto.
Uma aposta a longo prazo
O rumo dos leões tomou uma nova direção na época 2021/2022. Na altura, não venciam o campeonato desde 2018, ainda com Hugo Canela no leme. Desde então, Thierry Anti e Rui Silva tentaram contrariar o domínio do FC Porto, mas foi mesmo na casa dos dragões que o Sporting encontrou a chave para o sucesso. Ricardo Costa assumiu o comando técnico.
O antigo treinador havia orientado o FC Porto por duas temporadas, não tendo ido além da prata no campeonato. Não contava, contudo, com aquela que se verificou a arma mais eficaz sobre a sua alçada: os seus filhos. A transferência de Ricardo Costa para o Sporting fez-se acompanhar por Martim e Francisco (19 e 17 anos, respetivamente), ambos laterais com algumas provas já dadas nos dragões, mas ainda com as incertezas da tenra idade. Além da dupla de sangue, o projeto do Sporting CP conseguia fechar já a primeira linha do futuro: Natán Suárez juntava-se à equipa.
Pela primeira vez, os irmãos Costa operavam num palco onde a sua presença era primordial, sobre a alçada do seu pai para poderem crescer com quem conhece as melhores estratégias para espremer o sumo do jogo da dupla. Com cada partida, uma nova pinga de experiência acrescentava-se, num crescimento proporcional à qualidade coletiva da equipa.
Um ataque fluído jamais será vencido
Ricardo Costa deu as ferramentas para que as capacidades individuais dos seus atletas se sobressaíssem. Organizou as dinâmicas ofensivas com base na mobilidade e velocidade dos seus atletas, recorrendo a cruzamentos constantes que, por chamarem a atenção da defesa de forma tão eficaz, abriam bastante espaço para lances individuais. No momento da decisão, é exatamente nesse contexto que os leões se destacam, seja pela mão de “Kiko”, Martim, Natán, João Gomes, ou Jan Gurri, todos eles excelentes nas ações individuais de 1×1.
Na segunda linha, o trabalho do pivô não é tão recorrentemente solicitado, pelo menos no capítulo da finalização. Edy Silva, aquele que mais minutos possuí na posição, deixa a sua marca pelos vários bloqueios que fazem quebrar a defesa. Nas pontas, a eficácia dos executantes culmina as boas continuidades que se vão construindo.
O resultado não deixa dúvidas: o Sporting CP é a formação com mais remates certeiros no Campeonato Nacional. São 841 tentos em 23 encontros, para uma incrível média de 36.6 golos por jornada.
A muralha que dificultou as estrelas da Europa
Se as dinâmicas do ataque não se tornaram efetivas do dia para noite, a estrutura defensiva foi, sim, o produto realmente solidificado com os anos. Os leões passaram de conceder 28.5 golos em 2022/2023, para 26.9 no ano passado. Por esta altura, a tendência decrescente mantém-se, com 26.6 tentos sofridos na presente temporada. Mais que isso, são a terceira defesa mais impenetrável da Liga dos Campeões.
Os pilares são, indubitavelmente, os terceiros defensores: Salvador Salvador e Edy Silva. O primeiro foi um produto da formação do clube, cuja preponderância na equipa quando se dedicou maioritariamente às tarefas defensivas, apesar de estar habituado a envolver-se no ataque das equipas por onde passou. Desde então, acrescentou poderio físico e mobilidade na zona central, aspetos esses aliados à liderança que enverga com a braçadeira. Contudo, o contributo que vai dando no ataque não deve passar despercebido.
Ao lado do capitão está Edy Silva, tendo já consolidado as rotinas com o capitão, muito pela semelhança de características entre ambos. O atleta brasileiro foi, progressivamente, ganhando o seu espaço, desde a sua chegada a Alvalade em 2022, até que a sua titularidade se tornou inquestionável.
Apesar da importância que estes possuem na defesa sportinguista, destaco Pedro Martínez como o motor da defesa. As pressões constantes no par, a inteligência demonstrada no posicionamento, a postura nos duelos individuais e, claro, a interminável energia fazem deste uma arma que qualquer plantel desejaria ter. Além disto, possibilita Ricardo Costa a optar por um sistema 5-1, permitindo pressionar as dinâmicas ofensivas adversárias.
Para colmatar algumas fraquezas defensivas, a existência de trocas defensivas torna-se necessária. Isto porque os irmãos Costa não possuem tantas valências na defesa como no ataque, bem como pelo facto de este ser um bom momento para recuperarem energias. Como tal, Martínez surge muitas vezes de forma exclusiva nas tarefas defensivas, especialmente quando do lado do banco de suplentes. Se esse não for o caso, Gassama ganha espaço. Geralmente faz a parte do jogo em que as trocas são mais próximas à metade esquerda do ataque, para que, assim, não seja necessário efetuar mais uma alteração após a perda da posse da bola.
O resultado
Na Liga dos Campeões, a campanha dos leões surpreendeu muitos adeptos de andebol espalhados pelo mundo. Mais que isso, vários desenvolveram um carinho especial pelo espetáculo que se vai experienciando no Pavilhão João Rocha. A jogar em casa, o Sporting CP não perde há mais de dois anos.
Tudo isto se materializou num inédito apuramento para os “quartos” da principal prova da modalidade, desde a implementação do novo formato. Recorde-se que, em 1993/1994, o ABC Braga chegou à final, tendo caído perante o CB Cantabria. A este feito dos leões acrescenta-se o facto de terem superado o recorde de pontos por uma equipa portuguesa – agora de 18.
Em solo luso, seguem, também, para os quartos de final da Taça e lideram o campeonato, de momento em igualdade pontual com o FC Porto, mas com vantagem no confronto direto.