«Os argentinos gostam de discutir e de filosofar sobre os mistérios do jogo, para criar problemas ao rival e para melhorar as suas equipas. Este sentido arrojado do jogo, chegando à Europa, pode ter impacto»
A frase acima foi proferida por André Villas-Boas esta semana, quando apresentou Martín Anselmi como novo treinador do FC Porto. O presidente azul e branco tem interesse nesta romantização do protótipo do treinador argentino, desde logo para justificar uma escolha fora da caixa das opções habituais, mas não deixa de estar correto na análise que faz.
É uma nação muito diferente no que ao futebol diz respeito. Destacou-se mais na produção de jogadores de classe mundial, mas talvez o génio de nomes como Maradona e Messi tenha inspirado aqueles com pés menos talentosos a pensar e repensar o jogo. Daí surgiram alguns técnicos de impacto na história recente da modalidade, mas a nova fornada também quer deixar a sua marca...
Treinadores argentinos, uma história de sucesso
Desde o lendário César Luis Menotti, treinador que construiu um legado sem paralelo com os seus maneirismos e a conquista do Mundial de 1978, levando para o túmulo - faleceu no ano passado - o estatuto não oficial de maior mente do futebol argentino, até ao menos consensual Diego Simeone, cujas conquistas nacionais e internacionais no Atlético Madrid o isolam há vários anos como o treinador mais bem pago do mundo. Passando, invariavelmente, por Marcelo Bielsa, o treinador favorito do teu treinador favorito. A Argentina tem uma história notável no que a treinadores diz respeito.
Nove, salientamos! Quase um quinto da lista foi argentina, assim como a esmagadora maioria dos nomes da COMNEBOL (15). Isso não é surpresa, até porque há vários anos que persiste na América do Sul a crença de que a contratação de um treinador argentino é metade do caminho para o sucesso, tanto nos clubes como nas seleções.
Peguemos, por exemplo, na Copa América. Das 16 seleções participantes em 2024, sete tinham um argentino como treinador. Todos os grupos foram vencidos por uma destas sete seleções - Argentina (Scaloni), Venezuela (Fernando Batista), Uruguai (Bielsa) e Colômbia (Néstor Lorenzo) - e na chegada às meias-finais ainda havia três em competição! Este dado nem sequer é inédito, já que a edição de 2019 também teve três semifinalistas argentinos e em 2015 foram mesmo os quatro. Dados elucidativos.
A nova onda de directores técnicos
O já referido Lionel Scaloni é sem dúvida alguma o líder desta nova geração de treinadores, tendo-se apoiado na sua própria honestidade e na mistura de juventude e experiência para levar a seleção albiceleste a três títulos consecutivos. Mas sendo o nome mais reconhecível não passa a estar sozinho, até porque é a nível de clubes que a bola de neve se adensa...
Martín Anselmi chegou à Europa depois de construir uma excelente reputação no México (Cruz Azul) e sobretudo no Equador, onde conquistou dois títulos continentais pelo Independiente del Valle (Copa e Recopa Sudamericana). Entusiasmou pela proposta moderna e pelos resultados alcançados, mas como ele há mais exemplos.
Gabriel Milito é outro treinador que mostrou promessa no seu ano de estreia no Brasil, tendo levado o Atlético Mineiro à final da Libertadores. Já Eduardo Domínguez não se tem dado a grandes feitos nas provas continentais, mas vai mostrando promessa domesticamente com seis títulos no currículo, mesmo sem ter comandado equipas favoritas aos troféus em causa.
Mais a norte nas Américas, à entrada para a nova temporada da MLS, todas as atenções incidem sobre Javier Mascherano e a sua primeira experiência num clube. Depois de ter mostrado promessa nos escalões jovens da Argentina, será o treinador de Messi e companhia no Inter Miami. É mais um dos casos em que a chegada à Europa parece ser apenas uma questão de tempo.
- Veja também: Quem é Martín Anselmi, o novo treinador do FC Porto?