Demorou, demorou, demorou, mas, como água mole que vai batendo em pedra rija, os golos do Benfica foram surgindo, apoiando-se a exibição das águias encarnadas na figura de Di María. O argentino não teve o rendimento de luxo a que habituou os portugueses, mas conquistou a grande penalidade, marcou-a irrepreensivelmente e chegou ainda ao segundo golo, num remate frágil, mas colocadíssimo, que fugiu ao controlo de outra das grandes figuras dos 90 minutos: o guarda-redes Lucas França. O Benfica volta, assim, às vitórias depois do empate com o Aves SAD na jornada anterior e passa a estar ensanduichado entre Sporting e FC Porto: 36, 35 e 34 pontos, respetivamente, para os três primeiros.

Onde há 74 dias havia nevoeiro começou por aparecer nesta quinta-feira um gigante de 1,94 metros: Lucas de Oliveira França. O guarda-redes do Nacional foi o primeiro grande obstáculo que o Benfica teve de ultrapassar para chegar à vantagem. Pelo chão, pelo ar, com as mãos ou com os pés, o brasileiro foi verdadeiramente intransponível nos primeiros 45 minutos do jogo da Choupana.

O Benfica, mesmo sem exibição de luxo, poderia ter chegado ao intervalo com vantagem bem tranquila, tantas foram os remates enquadrados e perigosos que criou e finalizou. Porém, às cabeças de Pavlidis (12’) e Otamendi (36’) e aos pés de Akturkoglu (29’) respondeu Lucas França com um punhado de defesa extraordinárias. O Benfica não estava a jogar futebol encantador, mas dominava todas as variáveis, com exceção, claro, de colocar a bola no fundo da baliza. Porém, sejamos justos, grego, argentino e turco fizeram tudo de forma quase perfeita. O problema foi mesmo ter aparecido no caminho o goleirão paraíbano de Alhandra.

Por volta da meia hora, o nevoeiro voltou a aparecer na Choupana, mas, deste vez, apenas ténue e que não impedia que se continuasse a ver razoavelmente bem. Os encarnados continuavam a rodar a bola por quase todas as zonas do relvado, mas sentiam algumas dificuldades em entrar na grande área da equipa madeirense e, quando o faziam, encontravam o muro chamado Lucas França. E mesmo em cima do intervalo, aos 45+3, Akturkoglu recebeu a bola junto à marca de penálti, rodou um pouco e rematou. Era quase impossível não ser golo, mas Lucas França esticou-se, esticou-se, esticou-se e, no chão, esticou então os dedos da mão direita e desviou a bola para canto. Escrevemos muito, até agora, sobre o brasileiro, mas o resumo dos primeiros 45 minutos centrava-se quase só em Lucas França.

A segunda parte começou quase como terminara a primeira. Com o Benfica a criar muito perigo e, desta vez, com intervenientes diferentes: Kokçu e a barra. O turco rematou fortíssimo, parecia que a bola ia passar muito por cima da baliza, mas, de repente, curvou-se e embateu na barra. Não havia Lucas Franças, havia barra.

O golo, porém, continuava perto de aparecer. E assim foi aos 59’, depois de Di María cruzar, na esquerda, a meia-altura, aparecendo a mão de Ulisses Rocha a impedir que a bola chegasse a Pavlidis. Grande penalidade óbvia. Que Di María transformou em golo de forma perfeita. Estava desfeito o 0-0 e estava violada a baliza de Lucas França.

Tiago Margarido tinha de tentar algo de diferente para mudar o rumo do jogo e fez. Trocou Appiah por Daniel Penha, Isaac por Dyego Sousa e Matheus Dias por Bruno Costa. Tentar, tentou, mas não resultou. O Nacional continuou a ser uma presa demasiado frágil para um Benfica que nem estava a ser exuberante. E pouco depois,  num remate um pouco frouxo, mas colocado, Di María ampliou para 2-0.

Estava fechado o resultado e foi então que, percebendo que a vitória dificilmente fugiria, Bruno Lage começou a rodar jogadores: Akturkoglu por Beste, Aursnes por Leandro Barreiro, Di María por Schjelderup e Kokçu por Rollheiser. O Nacional poderia aproveitar para crescer, mas quem cresceu mesmo foi Leandro Barreiro, desviando de cabeça para a baliza dos madeirenses, obrigando Lucas França a desviar para o poste.