
O Presidente chinês, Xi Jinping, apelou hoje para uma renovação estratégica nas relações com a União Europeia, durante uma cimeira em Pequim marcada por crescentes tensões comerciais, tecnológicas e geopolíticas entre os dois blocos.
A reunião com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o presidente do Conselho Europeu, António Costa, decorreu no Grande Palácio do Povo, no âmbito da 25.ª cimeira China-UE, que assinala o 50.º aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas entre Bruxelas e Pequim.
Segundo Xi, ao longo das últimas cinco décadas, os laços sino-europeus produziram "resultados frutíferos" e beneficiaram ambas as partes e o mundo.
O líder chinês defendeu que, perante "uma situação internacional mais desafiadora e complexa", a China e a UE devem reforçar a comunicação, fomentar a confiança e aprofundar a cooperação, contribuindo com mais estabilidade e previsibilidade para o mundo.
"Devemos procurar convergências, mesmo mantendo divergências, e persistir na abertura e no benefício mútuo", afirmou, sublinhando a importância de promover um relacionamento bilateral "que continue a crescer na direção correta" e que possa projetar-se para os próximos 50 anos "ainda mais brilhantes".
Apesar da retórica diplomática, analistas e fontes europeias advertiram que a cimeira ocorre num clima de desconfiança mútua e com expectativas limitadas de resultados concretos.
O grupo de reflexão ('think tank') Bruegel classificou o encontro como uma "não-cimeira", devido ao impasse persistente nas principais áreas de discórdia.
Entre os temas centrais estão o desequilíbrio comercial -- com um défice europeu superior a 300 mil milhões de euros -- e o acesso a matérias-primas críticas, como as terras raras, sujeitas a restrições de exportação por parte da China.
A UE acusa Pequim de distorcer os mercados ao subsidiar fortemente a sua indústria, sobretudo no setor dos veículos elétricos, cujas exportações a preços abaixo dos praticados por fabricantes europeus levaram Bruxelas a impor tarifas adicionais entre 17% e 45,3%.
Outro foco de tensão reside no apoio chinês à Rússia. Em junho, Von der Leyen acusou Pequim de alimentar a economia de guerra russa com apoio "incondicional" a Moscovo.
De acordo com o South China Morning Post, jornal de Hong Kong, o chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi, terá alertado interlocutores europeus de que um eventual colapso russo desviaria o foco estratégico dos Estados Unidos para o Indo-Pacífico -- algo que a China pretende evitar.
Diplomatas europeus citados pela revista Politico acusam ainda Pequim de tentar dividir o bloco comunitário, privilegiando relações bilaterais com países como a Alemanha ou a França, em detrimento de uma abordagem unificada.
Já a publicação The Diplomat observa que o simbolismo do 50.º aniversário contrasta com a realidade atual: "A cimeira deverá apenas confirmar quão distantes estão os valores e interesses de ambas as partes."