
O Presidente Donald Trump voltou este domingo a sair em defesa das tarifas comerciais, dizendo que são um “remédio” que vai ajudar a curar a economia dos Estados Unidos da América.
Tanto em declarações aos jornalistas, a bordo do avião presidencial, como na rede social que é dono, a Truth Social, Trump defendeu que as tarifas impostas são a única forma de curar os défices financeiros que existem com várias economias, como a União Europeia ou a China.
O líder norte-americano prometeu inverter este cenário rapidamente, defendendo que as taxas fortalecem o país.
Na publicação na rede social, Trump escreveu ainda que “um dia todos vão perceber que as tarifas são uma coisa muito bonita” para os Estados Unidos da América.
Estados Unidos vs China
Trump lançou na passada semana uma guerra comercial contra o resto do mundo, impondo uma taxa mínima de 10% sobre todas as importações. No caso da China, as taxas são de 34%. E Pequim 'não se deixou ficar'. Além de retaliar com taxas no mesmo valor sobre produtos norte-americanos, travou também um acordo para a venda do TikTok nos Estados Unidos.
Na reação a esta retaliação, o Presidente Trump garantiu que está disponível para negociar um acordo com a China, mas com uma condição: Pequim tem de "resolver o seu superavit".
No domingo, o Presidente norte-americano confirmou que a decisão de impor taxas alfandegárias a nível global anulou um acordo inicial com a China sobre as operações da aplicação TikTok nos Estados Unidos.
"Tínhamos um acordo com o TikTok, não exatamente um acordo, mas bastante próximo, e depois a China alterou-o por causa das taxas (...) Se eu tivesse reduzido ligeiramente as taxas, eles teriam aprovado o acordo em 15 minutos, o que mostra o poder das taxas."
Uma lei aprovada durante o mandato de Joe Biden (2021-2025) obriga a empresa chinesa ByteDance, proprietária do TikTok, a desassociar-se da rede social no mercado norte-americano para que a plataforma possa operar no país.
Devido à ausência de um acordo, a aplicação deixou de funcionar durante algumas horas nos Estados Unidos, até que Trump, no seu primeiro dia na Casa Branca, assinou uma ordem executiva a conceder uma extensão de 75 dias, prazo que expirou este sábado e acaba de ser prorrogado.
China preparada para travar guerra comercial com Estados Unidos
O jornal oficial do Partido Comunista Chinês (PCC), Diário do Povo, admitiu esta segunda-feira que as taxas impostas por Washington terão impacto na economia chinesa, mas ressalvou que a liderança em Pequim já vinha a preparar-se para este momento.
"Embora os mercados internacionais considerem, de modo geral, que os abusos tarifários dos Estados Unidos excederam as expectativas, o Comité Central do Partido [Comunista] já tinha previsto esta nova ronda de contenção e repressão económica e comercial contra a China, estimou plenamente o seu potencial impacto e preparou planos de resposta com tempo de antecipação e reservas suficientes."
Reconhecendo que a aplicação de taxas alfandegárias adicionais de 34% sobre as importações oriundas da China, além das taxas de 20% impostas anteriormente, resultará numa "redução do comércio bilateral com os EUA" e num "impacto negativo a curto prazo para as exportações", o jornal lembrou que "muitos produtos dos EUA têm elevada dependência da China".
"Os EUA dependem da China não só para muitos bens de consumo, mas também para investimento e produtos intermédios, com uma dependência superior a 50% em várias categorias, o que torna difícil encontrar alternativas no mercado internacional a curto prazo."
Pequim "tem persistido em fazer coisas difíceis, mas corretas"
A percentagem das exportações da China para os Estados Unidos, em relação ao total das suas vendas externas, caiu de 19,2%, em 2018, para 14,7%, em 2024.
Parte desta queda deve-se ao 'comércio triangular', no qual os produtos são exportados quase concluídos da China para outros países, incluindo Vietname, Tailândia ou Camboja, onde é acrescentado um componente ou acabamento, visando alterar o local de fabrico, visando contornar as taxas. O jornal não refere este fenómeno.
O Diário do Povo lembrou que, nos últimos anos, "apesar das pressões internas e externas", Pequim "tem persistido em fazer coisas difíceis, mas corretas", incluindo desalavancar o setor imobiliário e reduzir o endividamento das administrações locais e das pequenas e médias instituições financeiras.
"Estes três grandes riscos foram eficazmente controlados e contidos e estão a diminuir."
Apontando a "grande dimensão" da economia chinesa, o jornal lembrou que a China dispõe de instrumentos de política monetária, como a redução do rácio de reservas obrigatórias e das taxas de juro, para estimular o consumo interno com uma "força extraordinária", o que permitiria ao país asiático reduzir a sua dependência das exportações.
Pequim lançou várias contramedidas às taxas anunciadas por Trump
"O mercado interno tem uma ampla margem de manobra", afirmou o jornal oficial do Partido Comunista Chinês. E sublinhou ainda a capacidade do país para transformar o efeito adverso das medidas dos EUA num "impulso" para acelerar a transformação económica e a "inovação industrial".
"Estrangular, reprimir e restringir apenas forçará a China a acelerar os avanços tecnológicos fundamentais em áreas-chave", avisou.
Pequim lançou na passada sexta-feira várias contramedidas às taxas anunciadas pelo Presidente dos EUA, Donald Trump.
As medidas de Pequim incluem taxas de 34% sobre produtos oriundos dos EUA, sanções contra empresas norte-americanas, restrições à exportação de certas terras raras ou a abertura de investigações antimonopólio e 'antidumping' contra empresas e produtos norte-americanos.
"Perante a inconstância e a pressão extrema dos Estados Unidos, não fechámos a porta às negociações", apontou o Diário do Povo. "Mas também não alimentamos esperanças, tendo feito vários preparativos para responder aos impactos", esclareceu.
- Com Lusa