
Numa entrevista ao diário económico Handelsblatt, Merz, que acaba de concluir um acordo de coligação com os sociais-democratas para formar governo em maio próximo, disse que foi um erro não ter conseguido levar a bom porto o TTIP (Transatlantic Trade and Investment Partnership), o grande acordo de comércio livre transatlântico.
"Em vez disso, tivemos debates sem sentido sobre frango clorado. Olhando para o futuro: o comércio livre continua a ser necessário e a base da nossa prosperidade mútua. E sim, aguardo com expetativa um novo acordo de comércio livre transatlântico. Zero direitos aduaneiros para tudo. Isso seria melhor para ambas as partes", afirmou.
As negociações entre a UE e os EUA sobre um acordo global de comércio e investimento, o TTIP, foram interrompidas por Trump em 2017, no início do seu primeiro mandato, e têm estado congeladas desde então.
Merz, que já defendeu um acordo de comércio livre com os EUA durante a campanha eleitoral, quer deslocar-se a Washington, embora ainda não haja uma data marcada para o efeito, disse, pois quer primeiro continuar as consultas estreitas que já iniciou sobre esta questão com os parceiros europeus.
O líder conservador considerou que os EUA "não vão passar à autossuficiência e dizer adeus a todos os mercados", mas se acabarem por fazê-lo, a Europa deve "lembrar-se que o mundo não se resume aos EUA".
"Temos de abordar outras regiões do mundo com mais vigor do que no passado e fazer ofertas de cooperação e novos acordos de comércio livre. Chegou o momento da União Europeia", afirmou.
Merz tem em mente países como o Canadá, o México, a Índia, o Japão, a Coreia do Sul e toda a região do Sudeste do Pacífico, até à Austrália e à Nova Zelândia.
O futuro chanceler alemão defendeu mais uma vez que o acordo de comércio livre com o Mercosul "deve entrar em vigor rapidamente".
O líder da União Democrata-Cristã da Alemanha (CDU) defende, em todo o caso, perante as tentativas de Trump de dividir a UE, que a Europa deve falar a uma só voz sobre as tarifas impostas por Trump, mas confiou, nas palavras do próprio líder norte-americano, que o Velho Continente conseguirá fechar "um acordo" com a Casa Branca.
"Faremos 'negócios' quando servirem interesses comuns e não porque nos exigem. O setor dos serviços também faz parte do quadro geral. E se o incluirmos na balança de transações correntes entre os EUA e a Europa, então o défice já não é tão grande", afirmou.
Questionado sobre se a Europa deveria comprar mais gás natural dos EUA, como exige Trump, Merz argumentou que a UE precisa de gás, incluindo dos EUA.
"Afinal, queremos construir rapidamente centrais elétricas a gás com tecnologia CCS, ou seja, captura e armazenamento de CO2. Estamos a abandonar o compromisso unilateral com o hidrogénio, que ainda nem sequer temos", afirmou.
Merz excluiu a possibilidade de criar uma nova dependência energética depois de se libertarem da Rússia.
"Nós próprios temos algumas reservas de gás na Europa e podemos obter gás de muitas outras partes do mundo. A Alemanha continuará a ser um importador de energia primária. Mas devemos ter sempre vários fornecedores e não estar dependentes de um só", defendeu.
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