Duas visões opostos do mundo estiveram em confronto no debate entre Rui Rocha e Mariana Mortágua. No que toca a Defesa, o presidente da Iniciativa Liberal acusou a líder bloquista de não ser confiável, por ter negado a guerra com a Rússia dias antes da invasão da Ucrânia. Já Mortágua rejeita as despesas de Portugal com armas sejam decididas “pelos generais de Trump” e Bruxelas e acusa os liberais de, no passado, terem alinhado com o regime de Putin através dos vistos gold.

Também a Habitação esteve em cima da mesa. Mortágua insiste nos tetos às rendas e atira com exemplos de países com governos liberais. Mas, para Rui Rocha, a solução para a falta de casas é “construir, construir, construir”.

O debate, transmitido pela CNN Portugal, fez-se também de Saúde. Rocha quer implementar um sistema em que os utentes escolham onde querem ser tratados, mas recusa que estejam em causa “vouchers disfarçados”. Diz que a decisão de implementar este sistema será tão importante como a da criação do SNS. Mortágua atirou que não esperava, na véspera do 25 de Abril, ouvir uma equiparação entre criar o SNS e destruí-lo e acusa a IL de não saber como vai pagar nada do que propõe.

Defesa

Rui Rocha diz que não tem dúvidas de que é preciso aumentar os gastos com a defesa – verbas que pretende ir buscar a fundos comunitários e à reprogramação do Plano de Recuperação e Resiliência, por exemplo. Considera que esse investimento, a prazo, trará vantagens económicas para Portugal. Defende, no entanto, que não há necessidade de fazer cortes em áreas essenciais.

Mariana Mortágua, por sua vez, acredita que não é preciso aumentar a despesa com armamento até aos 3% - uma meta, afirmou, decidida pela NATO, pelos “generais de Donald Trump”, e pela Comissão Europeia. Insiste que não tem sentido desviar fundos que são necessários para os serviços públicos e que a visão de industrialização dos liberais é dar dinheiro a indústrias de armamento estrangeiras.

O líder da IL acusou Mariana Mortágua de ter uma visão “limitada” sobre o assunto, isto porque, sublinha, o investimento em armamento não se esgota em armas.

CNN Portugal

Começando o ataque direto à adversária, Rocha lembrou que Mortágua negou a guerra com a Rússia dias antes da invasão da Ucrânia, concluindo que não se pode confiar nas previsões do Bloco de Esquerda.

Já Mariana Mortágua acusou a IL de ter apoiado a oligarquia de Putin, pela via dos vistos gold – com Rui Rocha a sublinhar que votou a favor do fim deste regime para a Habitação e o Bloco não.

Habitação

Mortágua voltou a colocar em cima da mesa a carta dos tetos às rendas, recordando que estão a ser aplicados na Holanda - país de governo liberal - e na Alemanha, por exemplo.

A líder do Bloco de Esquerda afirmou que, para a maior parte das pessoas em Portugal, o mercado de arrendamento “não existe”.

“A renda média está acima do seu salário. São contas que qualquer um consegue fazer, até um liberal” , atirou.

CNN Portugal

Mas o liberal na sala discordou de que o caminho seja o tabelamento dos preços. Rocha defendeu que os tetos às rendas “têm telhados de vidro” e que nos países onde foram aplicados – incluindo, sim, na liberal Holanda - só aprofundaram a crise.

Na opinião de Rui Rocha, o controlo de rendas “prejudica as gerações futuras”, porque quem está à procura de casa tem menos opções.

“É um ataque direto aos jovens de Portugal”, acusou. “É um desastre!”

O que deve então o país fazer? “Construir, construir, construir”, respondeu o liberal. “Mais, mais depressa e mais alto.”

Saúde

O último tema do frente a frente foi a Saúde, onde, mais uma vez, os dois líderes políticos mostraram visões antagónicas.

Rui Rocha recusou que proposta da IL para o setor seja um sistema de vouchers disfarçados. Afirma que pretende que os portugueses possam escolher em que setor querem ser tratados, porque hoje a Saúde está dividida para “três tipos de portugueses” - os funcionários públicos que têm ADSE, os que têm seguros de saúde e os mais desfavorecidos, que não têm nem uma coisa nem outra.

O presidente da Iniciativa Liberal notou que o orçamento estatal para a Saúde tem aumentado sucessivamente sem que os problemas de produtividade do Serviço Nacional de Saúde (SNS) tenham sido resolvidos.

Para Rui Rocha, é o momento de “tomar uma decisão” de uma significância que equipara à da criação do próprio Serviço Nacional de Saúde.

Mariana Mortágua respondeu que não esperava, na véspera do 25 de Abril, ouvir uma equiparação entre a decisão de criar o SNS e a decisão de “destruí –lo”.

A coordenadora do Bloco de Esquerda acusa Rocha de querer pegar no dinheiro público e entregá-lo aos privados. “O privado passa a conta e o Estado paga.”

“A partir do momento que está no privado, acabou a igualdade de acesso à Saúde”, afirmou, apontando o exemplo dos Estados Unidos da América.

Mortágua considera que o sistema proposto pela IL “é mais caro e pior para as pessoas”. E acusa os liberam de não dizerem como tencionam pagá-lo. “Como não dizem como pagam nada no seu programa”, referiu. “Não sei como é que vai fazer, e desconfio que o Rui Rocha também não sabe.”

Seja na Saúde, seja na Administração Pública. Isto porque, apontou a líder bloquista, para financiar as descidas de impostos dos mais ricos, a IL quer cortar a totalidade dos funcionários administrativos do Estado.

“É um bulldozer, nem é uma motosserra”, atirou.