Em Almada, no arranque do 28.ºCongresso do PCP, o secretário-geral do partido, Paulo Raimundo, criticou o Orçamento do Estado para 2025, viabilizado com a abstenção do PS, defendendo que "é mais uma peça" dos "interesses do grande capital" e inclui "novas tentativas de ataques aos direitos dos trabalhadores".
Paulo Raimundo considerou que o Orçamento do Estado "empobrece a vida aos pobres e enriquece a vida aos ricos", criticando em particular a redução do IRC em 1 ponto percentual, por considerar que vai dar "mais 400 milhões de euros direitinhos aos grupos económicos, esses tais que já hoje encaixam 32 milhões de euros de lucro por dia".
"Não surpreende que PSD e CDS, com Chega e Iniciativa Liberal (IL), assumam por inteiro os interesses dos que se acham donos disto tudo. Ainda que, sem surpresa, não se pode deixar de registar a opção do PS que, por maiores que sejam agora as suas proclamações, não conseguem disfarçar, nem muito menos apagar, as cumplicidades com as medidas aprovadas", afirmou.
Paulo Raimundo salientou que "o PSD e o CDS tiveram o Orçamento aprovado, o PS criou-lhes as condições para isso e ainda libertou e o Chega e a IL de ter de votar a favor", acrescentando que "todos, e perante as fabricadas discordâncias, são cúmplices da política que está em curso e desta política errada".
"Perante esta teia de cumplicidades, o PCP assume-se como a verdadeira força de oposição, resistência e de alternativa à política de direita. Um caminho que exige o combate ao avanço das conceções, objetivos e forças reacionárias que, apresentadas como antissistema, são o pior que o sistema produz", afirmou.
Para Paulo Raimundo, esse combate a forças reacionárias "obriga à rutura da política de direita, essa que é a causa funda que abre espaço e alimenta essas mesmas forças".
"Não se dá combate às forças reacionárias alimentando as suas conceções e aplicando, a pretexto do seu combate, a política que projeta", frisou.
O secretário-geral do PCP avisou que "a evolução do país nos tempos mais próximos dependerá do desfecho do confronto entre os que querem concluir o processo contrarrevolucionário e as forças que, ancoradas em Abril e na Constituição, lhes fazem frente e resistem".
"Um embate e um confronto que não se compadece nem admite que se fique em cima do muro. Que se fale de esquerda e se apoie a política de direita, que se fale nos direitos dos trabalhadores e se entregue de mão beijada benefícios para o grande capital, que se fale do superior interesse nacional, para a seguir se entregue mais uma empresa ao estrangeiro, mais uma parcela de soberania", afirmou, numa alusão ao PS.
Para Paulo Raimundo, "a situação nacional reclama iniciativa política, com propósitos e objetivos claros e sem hesitações para dar combate decidido à política de direita".
"As ameaças da direita exigem, e exigirão no futuro ainda mais, um PCP ainda mais forte e mais influente", referiu.
Está em curso uma "ofensiva anticomunista"
No discurso, de cerca de 50 minutos, o secretário-geral do PCP considerou também que está em curso uma ofensiva anticomunista e uma campanha de desinformação à escala global, e atacou a NATO, a União Europeia e o "genocídio" de Israel contra o povo palestiniano.
"Intensificam-se à escala global os mecanismos de condicionamento e controlo ideológico ancorados em gigantescos grupos económicos que controlam os meios de comunicação e as redes digitais e procuram impor o pensamento único e iludir a natureza do capitalismo", declarou Paulo Raimundo.
Nessa ofensiva anticomunista, segundo o líder comunista, pretende-se "legitimar a escalada do militarismo, as sanções, os bombardeamentos, as ingerências, os golpes e calar quem luta pela paz".
"Querem reescrever a história, incluindo a história da revolução portuguesa, querem promover o anticomunismo, o racismo, o ódio e conceções reacionárias e fascizantes, a quem dão cada vez mais espaço e projeção. Estes são tempos de desinformação, de notícias falsas e mentiras, de manipulação e censura promovidas à escala global. Ignorar esta ofensiva, seria não apenas ingénuo, mas perigoso para a luta que travamos", advertiu.
Na sua análise à atual conjuntura mundial, Paulo Raimundo referiu-se por uma vez à guerra na Ucrânia: “Os últimos anos são reveladores da violenta ofensiva do imperialismo, com a sua escalada de confrontação e guerra, como vemos no Médio Oriente, na Palestina, no Líbano e na Síria, na Europa, nomeadamente na Ucrânia, na Ásia-Pacífico e noutras partes do mundo. Um caminho de fomento do militarismo, de crescentes ameaças à paz, com o perigo de um conflito mundial que, a não ser travado, poderá assumir catastróficas proporções”.
E foi neste contexto que introduziu as suas duras críticas à Aliança Atlântica e aos Estados Unidos, sustentando que a "expressão concreta" da escalada é em si mesmo a NATO, "com a sua ação belicista, o seu sucessivo alargamento, a sua intervenção de âmbito global".
"Representando hoje mais de metade das despesas militares no plano mundial, a NATO é o braço armado do imperialismo e o seu mais perigoso instrumento na ofensiva em curso. Uma ofensiva que é liderada pelo imperialismo norte-americano e cujo objetivo de imposição da supremacia dos interesses dos Estados Unidos não se alterará com a nova administração Trump", afirmou - uma referência à sua ideia de continuidade na administração de Washington.
A seguir, Paulo Raimundo associou a União Europeia à NATO, advogando que é "cada vez mais evidente o seu caminho militarista".
Em contraponto, destacou a China e outros países de economias emergentes: "Um processo de rearrumação de forças em que a China assume um papel destacado e onde participam outros países em desenvolvimento com um crescente peso económico e político, que procuram convergir, num quadro muito heterogéneo, na resistência ao domínio do imperialismo".
Paulo Raimundo levantou os cerca de mil delegados ao congresso quando se referiu à Palestina, frisando que o seu povo não está sozinho. Gritou-se então "Palestina vencerá".Palavras de solidariedade foram também transmitidas pelo secretário-geral do PCP para Cuba, "Venezuela bolivariana" e Sara Ocidental.
"Ao contrário do que alguns gostariam, a História não acabou e o capitalismo não é o fim da História", acrescentou.
O pedido para romper com políticas de direita
O secretário-geral do PCP apelou ainda a "ampliação da convergência de todos os democratas e patriotas pela rutura de uma política de direita" como uma das questões que emergem para romper com política de direita e defender o regime democrático e o cumprimento da Constituição.
"Um rumo que encontra em todos aqueles que não prescindem da defesa do regime democrático e do cumprimento da Constituição o elemento agregador capaz de mobilizar todas as forças e energias para resistir e para vencer. É este o desafio que temos pelas mãos", pediu Raimundo.
O secretário-geral comunista sublinhou que esta convergência exige o envolvimento de diversos setores e diferentes "pontos de vista e posicionamentos, mas unidos num objetivo comum".Raimundo ressalvou, no entanto, que a "gravidade da situação exige a afirmação clara do PCP e do seu papel e não a sua diluição em falsas saídas ou soluções inconsequentes".
"A alternativa patriótica e de esquerda é a grande batalha para a qual estamos todos convocados. Demore o tempo de demorar, daqui convictamente reafirmamos: O PCP vai empenhar todas as suas forças para romper com a política de direita e concretizar os direitos e as condições de vida que têm sido negados aos trabalhadores e ao povo", assegurou.
Este projeto de convergência deve "promover o desenvolvimento económico", garantir um país coeso e equilibrado", reforçar a democracia e "recuperar instrumentos de soberania e afirmar a independência nacional", defendeu.
Para Raimundo, o principal desafio não está "no conteúdo da alternativa", mas sim na "apreensão de como se constrói, com quem se conta e na confiança quanto à real possibilidade de concretização da alternativa patriótica e de esquerda.
O líder comunista garantiu que para lá chegar "não há nenhuma solução mágica", mas é sim "preciso resistir, confiar nos trabalhadores e no povo" e "conhecer o chão que pisamos".
"É preciso tomar a iniciativa e lutar, lutar ainda mais e com mais gente, reforçar as organizações dos trabalhadores e das massas populares e levar a sua participação, alargar a convergência de democratas e patriotas, reforçar o PCP", apelou.
Os trabalhos do 22.º Congresso do PCP começaram precisamente às 10:30, como estava agendado, com os delegados a entoarem "A Internacional", tendo posteriormente aprovado várias propostas de funcionamento do Congresso, como o seu regulamento, a sua presidência e os seus órgãos.
Com LUSA