
O diretor da Polícia Federal do Brasil afirmou hoje que não existe motivo para o alarme que está a ser criado em torno da presença de membros da organização criminosa Primeiro Comando Capital (PCC) em Portugal.
"Não há, na nossa avaliação, nenhum motivo para esse alarme do tamanho que está sendo divulgado, que muitas vezes tem interesses laterais", disse, em resposta à Lusa, Andrei Rodrigues, à margem do Fórum Lisboa, na capital portuguesa.
Questionado pela Lusa, o diretor da Polícia Federal brasileira não avançou com números concretos de membros de organizações criminosas brasileiras presentes em Portugal e preferiu destacar a "fluidez de informações que permite ter essa serenidade de avaliar a situação".
"É claro, com também preocupação, porque o enfrentamento ao crime organizado precisa ser feito, evitar que isso se alastre, e isso tem sido feito", frisou.
Segundo Andrei Rodrigues, a presença de adidos da Polícia Federal em Lisboa e de Portugal em Brasília asseguram uma boa circulação de informações, em conjunto com os acordos recentemente assinados na cimeira de chefes de Governo luso-brasileira realizada em fevereiro na capital brasileira.
"Tem sido feito essa cooperação, com essa atuação conjunta, com operações conjuntas que já fizemos, especialmente na área de tráfico de drogas, e que tem trazido bons resultados", disse.
Estas declarações estão em linha com afirmações, em entrevista conjunta à Lusa e à Efe, do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, assegurando que a presença de fações criminosas brasileiras em Portugal "são situações episódicas", considerando, contudo, que "hoje o crime organizado é internacional".
"O que nós temos aqui da presença de eventuais fações criminosas brasileiras em Portugal e vice-versa são situações episódicas, não é uma colaboração estrutural", disse, à margem do Fórum Lisboa, que reúne centenas de personalidades brasileiras na capital portuguesa.
Por essa razão, é algo que não desperta "uma preocupação maior dos brasileiros ou dos portugueses, das autoridades policiais", frisou.
No mesmo evento, o pré-candidato anunciado às presidenciais brasileiras de 2026 Ronaldo Caiado, governador do estado de Goiás, tinha manifestado maior preocupação, advertindo as autoridades portuguesas "que não baixem a guarda" contra organizações criminosas brasileiras que estão a instalar-se com força em Portugal.
Em conferência de imprensa, Ronaldo Caiado frisou que o Primeiro Comando Capital, mais conhecido como PCC, "passou a recrutar em maior número em Portugal".
"O PCC hoje está instalado em 24 países e o maior país da Europa [em que está presente] é aqui em Portugal", e "com a facilidade da língua eles vão invadir muito mais", advertiu o pré-candidato presidencial, um dos principais nomes para assumir o 'bolsonarismo' nas eleições presidenciais de 2026.
As autoridades brasileiras já admitiram a existência de membros da organização criminosa brasileira PCC e do Comando Vermelho em Portugal.
O PCC surgiu há três décadas nas prisões de São Paulo e está presente em todo o território brasileiro e grande parte da América do Sul, especialmente Paraguai e Bolívia.
Já o Comando Vermelho foi criado em 1979 nas prisões do Rio de Janeiro e é hoje uma das organizações criminosas mais perigosas do mundo.
Entre quarta-feira e hoje, Lisboa torna-se numa espécie de segunda capital brasileira com a presença de várias das principais personalidades dos três poderes brasileiros, num evento organizado pelo juiz do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes e intitulado "O mundo em transformação --- Direito, Democracia e Sustentabilidade na Era Inteligente".
De acordo com a organização, serão realizados 57 painéis, com 500 palestrantes, com uma estimativa de 2.500 participantes.