Jean-Marie Le Pen, fundador da Frente Nacional (FN) e figura histórica da extrema-direita francesa, morreu esta terça-feira, aos 96 anos, anunciou a família à agência France-Presse (AFP).
"Jean-Marie Le Pen, rodeado pela sua família, foi chamado de volta a Deus às 12:00 [11:00 em Portugal continental] de terça-feira", declarou a família, num comunicado enviado à AFP.
Protagonista controverso de uma longa carreira política, foi membro da Assembleia Nacional Francesa em várias ocasiões (eleito pela primeira vez há 63 anos) e eurodeputado durante mais de três décadas.
Em 2011, passou a liderança da FN à filha, Marine Le Pen, que transformou o partido, dando-lhe o nome de Rassemblement Nationale (RN, União Nacional em português).
Após vários confrontos entre os dois sobre as diferenças de estratégia e orientação ideológica, ela excluiu-o do partido em 2015. Jean-Marie Le Pen continuou, no entanto, como presidente honorário até 2018 e, um ano depois, deixou de vez a política.
Figura polarizadora na política francesa, Le Pen era conhecido pela retórica inflamada contra a imigração e o multiculturalismo, que lhe valeu tanto apoiantes fiéis como uma condenação generalizada.
As declarações polémicas conduziram a múltiplas condenações e prejudicaram as suas alianças, mas o político nunca se arrependeu dos excessos, muitas vezes repetidos: das câmaras de gás, "um pormenor da História", à "desigualdade das raças" (1996), passando pela ocupação alemã "não particularmente desumana" (2005) ou pela agressão física a um adversário socialista (1997).
Le Pen chegou à segunda volta das eleições presidenciais de 2002, então com 73 anos e na quarta candidatura ao Eliseu.
Este resultado surpreendente desencadeou marchas, que juntaram milhões de pessoas durante 15 dias, contra o racismo. Acima de tudo, Jean-Marie
Le Pen facilitou a reeleição do seu inimigo declarado, Jacques Chirac.
Mais tarde, ele e a sua filha acabariam por se afastar. Em 2018, Marine Le Pen mudou o nome do partido para se demarcar da sua imagem "demonizada" e expandir o seu apelo eleitoral, culminando no seu próprio sucesso presidencial.
Apesar da sua exclusão do partido em 2015, o legado divisivo de Le Pen perdura, marcando décadas da história política francesa e moldando a trajetória da extrema-direita.
"Alistado com o uniforme do exército francês na Indochina e na Argélia, tribuno do povo na Assembleia Nacional e no Parlamento Europeu, sempre serviu a França, defendeu a sua identidade e a sua soberania", saudou hoje o presidente do RN, Jordan Bardella.