Israel condenou a intenção do Canadá de reconhecer o Estado da Palestina, que considera favorecer o movimento islamita Hamas, enquanto a França saudou o anúncio do primeiro-ministro Mark Carney.

"Reconhecer um Estado palestiniano na ausência de um governo responsável, de instituições funcionais ou de uma liderança benevolente recompensa e legitima a monstruosa barbárie do Hamas a 07 de outubro de 2023", afirmou a Embaixada de Israel em Otava.

O anúncio de Mark Carney, adiantou a embaixada em comunicado divulgado na noite de quarta-feira, insere-se numa "campanha de pressão internacional distorcida" que "endurece a posição do Hamas na mesa das negociações num momento crítico".

A presidência francesa congratulou-se com a intenção do Canadá de reconhecer o Estado da Palestina na Assembleia Geral das Nações Unidas em setembro e afirmou que "continuará os seus esforços" para garantir que outros Estados façam o mesmo.

"Estamos muito satisfeitos por podermos trabalhar em conjunto com o Canadá para reavivar a perspetiva de paz na região", declarou o Eliseu.

"Continuaremos os nossos esforços para garantir que outros se juntem a este impulso na preparação da Assembleia Geral", adiantou.

Antes do anúncio de Otava, refere, o Presidente Emmanuel Macron falou com o primeiro-ministro canadiano, Mark Carney.

A França anunciou intenção semelhante na semana passada, tornando-se o primeiro país do G7 a fazê-lo, e o Reino Unido também admitiu na terça-feira o reconhecimento do Estado da Palestina, caso Israel não acabe com a "situação catastrófica em Gaza", decrete um cessar-fogo no enclave palestiniano e garanta que não vai anexar a Cisjordânia.

Até ao momento, pelo menos 142 dos 193 países-membros da ONU reconhecem o Estado palestiniano, segundo dados da agência noticiosa France-Presse.

Numa conferência de imprensa em Otava, Carney enquadrou a decisão como uma resposta ao "sofrimento insuportável" causado pelas ações de Israel para impedir a distribuição de ajuda humanitária em Gaza, à violência dos colonos israelitas na Cisjordânia e aos planos de anexação do território palestiniano.

"O Canadá está há muito empenhado numa solução de dois Estados: um Estado palestiniano independente, viável e soberano, ao lado de um Estado de Israel em paz e segurança. Durante décadas, esperou-se que este resultado fosse alcançado como parte de um processo de paz", explicou Carney.

"Infelizmente, esta abordagem já não é alcançável", acrescentou numa conferência de imprensa em Otava.

Embora Carney tenha abordado a rejeição do Hamas da solução de dois Estados e o ataque de 07 de outubro de 2023 por este movimento palestiniano, atribuiu a culpa da crise humanitária ao governo israelita.

O líder canadiano observou que manteve conversações com o presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, a quem comunicou que a decisão do Canadá "baseia-se" no seu "desejo" de implementar "grandes reformas", como a realização de eleições gerais em 2026 e não militarização do território palestiniano.

Carney insistiu ainda que o Hamas não pode participar nas eleições de 2026 nem ter qualquer papel na futura governação da Palestina, deve desarmar-se e libertar imediatamente todos os reféns que tem mantido desde o ataque de 07 de outubro de 2023.

Entre os 27 da União Europeia, cinco países reconhecem o Estado palestiniano: Espanha, Irlanda, Noruega, Eslovénia e Suécia.

Numa declaração conjunta assinada no final da conferência sobre a solução dos dois Estados, nas Nações Unidas, Portugal admite reconhecer o Estado da Palestina e declara-se empenhado em trabalhar no "dia seguinte" em Gaza.

"Antes da reunião dos chefes de Estado e de Governo que terá lugar durante a semana de alto nível da 80.ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU 80) em setembro de 2025, (...) [os chefes da diplomacia de 12 países europeus, Canadá, Austrália e Nova Zelândia] já reconhecemos, expressámos ou expressamos a vontade ou a consideração positiva dos nossos países em reconhecer o Estado da Palestina, como um passo essencial para a solução de dois Estados", lê-se na declaração conjunta, subscrita pelo ministro dos Negócios Estrangeiros português, no final da conferência, que terminou na terça-feira, em Nova Iorque.

Pela Europa, assinam a declaração Andorra, Finlândia, França, Islândia, Irlanda, Luxemburgo, Malta, Noruega, Portugal, San Marino, Eslovénia e Espanha.