O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) apelou esta segunda-feira aos países desenvolvidos para duplicarem os recursos destinados ao financiamento ao desenvolvimento, que tem um défice de quatro biliões de dólares e "está a afogar-se".

"O financiamento é o motor do desenvolvimento e, neste momento, esse motor está a afogar-se", disse António Guterres, na abertura da IV Conferência Internacional para o Desenvolvimento da ONU, em Sevilha, Espanha, onde estão reunidos representantes de 192 dos 193 países da organização, incluindo mais de 60 chefes de Estado e de Governo.

Agenda 2030 em perigo e objetivos de desenvolvimento sustentável em atraso

"Estamos aqui em Sevilha para mudar o rumo", disse Guterres, que considerou o documento "Compromisso de Sevilha", negociado nas últimas semanas no seio da ONU e que pretende relançar o financiamento ao desenvolvimento e a cooperação internacional, "uma clara promessa global de reparar a forma como o mundo apoia os países que sobem a escada do desenvolvimento".

O líder da ONU destacou a necessidade de "fazer fluir os recursos, rápido", dirigindo-se aos países em desenvolvimento, a quem pediu investimentos nas "esferas de maior impacto", como a saúde, a educação ou as energias renováveis.

A estes países pediu também reforços dos sistemas tributários e combate à corrupção e evasão fiscal.

Países desenvolvidos devem mobilizar recursos e trilhar setor privado

Quanto aos países desenvolvidos e doadores de ajuda ao desenvolvimento, realçou o apelo do "Compromisso de Sevilha" para "duplicarem a ajuda dedicada à mobilização de recursos nacionais" e insistiu que os bancos de desenvolvimento têm de triplicar a capacidade de empréstimos.

Guterres reiterou ainda a necessidade de atrair e envolver o setor privado para investimentos para o desenvolvimento, com novos quadros legais e mais transparentes.

Sem caridade, com justiça: Sevilha traça rumo para dívida e dignidade global

O secretário-geral da ONU considerou também essencial "reparar o sistema mundial da dívida" pública, que é insustentável, injusto e inacessível para os países em desenvolvimento, sendo considerado um bloqueio ao crescimento sustentável, como está também enunciado no "Compromisso de Sevilha".

"Com um serviço de dívida que ascende a 1,4 biliões de dólares ao ano, os países precisam - e merecem - um sistema que abarate o custo do endividamento, facilite a reestruturação justa e oportuna da dívida e preveja as crises em primeiro lugar", afirmou, considerando que o "Compromisso de Sevilha" lança as bases para serem alcançadas estas mudanças necessárias.

"Esta conferência não é sobre caridade. Tenta restabelecer a justiça e permitir que todos vivam com dignidade", destacou.

Os Estados Unidos da América (EUA), que cortou na ajuda ao desenvolvimento desde que Donald Trump voltou à Presidência do país, em janeiro, são o único país ausente de Sevilha e também abandonaram as negociações do "Compromisso de Sevilha", que não vão subscrever.