
Mais de metade das crianças em Portugal - 52% - brinca menos de uma hora por dia com a família, indica um estudo nacional promovido pelo Instituto de Apoio à Criança (IAC). A falta de tempo livre e o cansaço dos adultos surgem como os principais obstáculos. Os dados, recolhidos junto de mais de 1.100 famílias, vêm confirmar uma situação preocupante sobre o cumprimento do direito da criança a brincar - essencial ao desenvolvimento infantil, mas cada vez mais posto em causa pela pressão da vida quotidiana.
O estudo, realizado em parceria com a Estrelas & Ouriços e a Escola Superior de Educação de Coimbra, envolveu famílias e também cuidadores de crianças até aos 10 anos. Os dados evidenciam um cenário preocupante: apenas 9% das crianças têm entre duas a três horas de brincadeira diária em família.
Entre os principais obstáculos apontados está a exaustão dos adultos devido à carga laboral, referida por 40,4% dos inquiridos - um número que tem vindo a crescer desde 2018. Metade das famílias identifica a falta de tempo livre como o maior entrave à brincadeira.
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Apesar de quase metade dos participantes reconhecer que brincar é essencial para a criatividade e 21,5% o associarem ao desenvolvimento emocional, o estudo mostra que as crianças continuam com pouco tempo e espaço para brincar.
Divulgado por ocasião do Dia Mundial da Criança, o estudo vem reforçar a importância de políticas que garantam o direito das crianças a brincar, num contexto em que esse direito continua ameaçado pelo ritmo de vida dos adultos.
“Neste Dia Mundial da Criança, deixámos o repto à sociedade: estamos a dar às crianças a possibilidade de serem crianças e às famílias a possibilidade de serem famílias?”, questionou Ana Lourenço, coordenadora do Setor da Humanização e Direito a Brincar do IAC.
"É preciso garantir, juntos, o Direito a Ser Criança"
Em 2024, o IAC trabalhou com 53 escolas, formou 108 profissionais e ouviu mais de 500 crianças, promovendo projetos educativos centrados na importância de brincar. Em 2025, a iniciativa vai continuar em concelhos como Viseu, Benavente, Lisboa e Cascais.
Segundo comunicado divulgado pelo IAC, o Instituto reforça: “Uma política da infância deve ser obra de toda a comunidade”, garante o fundador João dos Santos.
"O apelo mantém-se: é preciso garantir, juntos, o Direito a Ser Criança", sublinha o Instituto.