
O súbito desaparecimento de um respeitado monge do seu templo budista no centro de Banguecoque, na Tailândia, foi o suficiente para revelar um dos maiores escândalos sexuais a envolver a comunidade.
As investigações sobre o desaparecimento do monge Phra Thep Wachirapamok levaram a polícia a identificar Wilawan Emsawat, uma mulher que, segundo as autoridades, manteve relações com vários monges, chantageando-os para garantir que mantivessem os encontros em segredo.
O caso ficou ainda mais claro quando este mês a polícia revistou a casa de Emsawat, tendo encontrado dezenas de milhares de fotografias e vídeos que expunham as suas relações íntimas, não só com o monge desaparecido, mas com várias outras figuras proeminentes da comunidade budista.
“Depois de lhe apreendermos o telemóvel, verificámos e descobrimos que há vários monges envolvidos e vários [vídeos] e conversas no Line [aplicação de mensagens]”, explicou Jaroonkiat Panaew, do gabinete central de investigação da polícia tailandesa, numa conferência de imprensa realizada na terça-feira, segundo cita o jornal “The Guardian”. “Verificámos o seu rasto financeiro e descobrimos que envolve muitos templos”, acrescentou.
Segundo a BBC, a polícia acredita que a mulher recebeu cerca de 385 milhões de bahts, o equivalente a 10,2 milhões de euros, nos últimos três anos.
Emsawat foi detida na terça-feira, tendo sido acusada de extorsão, branqueamento de capitais e receção de bens roubados. Numa entrevista aos meios de comunicação social tailandeses, a jovem confirmou ter mantido relações com dois monges e um professor de Religião, além de reconhecer ter recebido dinheiro e prémios valiosos, incluindo um Mercedes-Benz SLK200.
Segundo a polícia, Emsawat alegou ter um filho do monge desaparecido e exigiu uma pensão de alimentos no valor de mais de sete milhões de bahts (aproximadamente 186 mil euros). As autoridades informaram ainda que a maior parte do dinheiro já havia sido levantada e que uma parte significativa foi usada em jogos de azar online.
Regras vão ser revistas
Na Tailândia, mais de 90% da população identifica-se como budista. Segundo o “The Guardian”, os monges recebem subsídios de alimentação mensais entre 2500 e 34.200 bahts (66,36 euros e 907,76 euros), consoante a sua posição. Além disso, é preciso ter em conta os donativos recebidos pelos templos, que podem revelar-se especialmente lucrativos para monges com estatutos mais elevados.
A título de exemplo, no início deste mês, um outro monge levantou suspeitas ao denunciar o roubo de 10 milhões de bahts (265 mil euros) em dinheiro e barras de ouro do seu quarto, conta o jornal britânico.
O escândalo que envolveu Phra Thep Wachirapamok e Wilawan Emsawat relançou a discussão sobre as tradições celibatárias do Budismo Theravada praticado na Tailândia. “Quando a decadência moral do clero está à vista de todos, é a mulher que cai, enquanto os monges são considerados vítimas”, escreveu Sanitsuda Ekachai num artigo de opinião no jornal “Bangkok Post”.
Na sequência do ocorrido, o Governo tailandês ordenou às autoridades que considerassem a possibilidade de tornar mais rigorosas as leis relacionadas com monges e templos. Também o Conselho Supremo do Sangha – o órgão que rege o budismo tailandês – afirmou que vai criar um comité especial para rever os regulamentos monásticos.