Estas mortes representam três quartos do total registado de mortos desde 2014 pela OIM (74.408) no Projeto Migrantes Desaparecidos, através do qual realiza uma monitorização contínua de vítimas das rotas migratórias em todo o mundo.

De acordo com o projeto, o Mediterrâneo é a rota mais perigosa, registando quase 25.000 mortes em 11 anos, mas o relatório defende que as áreas "mais mortíferas" para os migrantes são as regiões de crise.

Mais de metade (54%) de todas as mortes de migrantes aconteceu, de acordo com o documento, em países afetados por conflitos e catástrofes ou nas suas proximidades.

Foi o caso do Afeganistão, onde morreram cerca de 5.000 pessoas, muitas delas a tentar fugir do país depois de os talibãs terem assumido novamente o poder em agosto de 2021, ou de Myanmar (antiga Birmânia), onde mais de 3.100 pessoas, sobretudo da minoria rohingya morreram, muitas delas em naufrágios quando tentavam chegar à costa do vizinho Bangladesh.

Entre as zonas mais críticas contam-se ainda a Etiópia, onde foram registadas 1.923 mortes, a Síria, com 1.433 mortes, a Guatemala (792), a Venezuela (764) e o Haiti (593).

A completar a lista dos mais afetados estão os migrantes das Honduras (522 mortes), do Sudão (449) e do Bangladesh (346).

"Estes números servem como um trágico lembrete de que as pessoas colocam as suas vidas em risco quando a insegurança, a falta de oportunidades e outras pressões não lhes deixam saída nos seus países de origem", afirmou a diretora-geral da OIM, Amy Pope, na apresentação do relatório.

A responsável incentivou a adoção de medidas adicionais para aumentar a segurança destes grupos e o investimento em oportunidades de desenvolvimento nos seus países de origem "para que a migração seja uma escolha e não uma necessidade".

"Quando já não for possível permanecer [nos seus países], devemos trabalhar em conjunto para estabelecer rotas seguras, legais e ordenadas que salvarão vidas", sublinhou.

A organização que integra o sistema das Nações Unidas lamentou que, apesar da gravidade do panorama global, os migrantes não sejam prioridade quando se planeia a assistência humanitária.

"Embora um em cada quatro migrantes desaparecidos venha de um país afetado por uma crise, a ajuda muitas vezes não inclui medidas para proteger aqueles que são forçados a mudar-se", refere o documento.

A coordenadora do Projeto Migrantes Desaparecidos da OIM, Julia Black, observou que "os migrantes são frequentemente deixados de fora das estatísticas", especialmente em zonas de catástrofe, pelo que "o verdadeiro número de mortos pode ser muito maior do que o reportado".

PMC // SCA

Lusa/Fim