“Isto ainda é feito assim?”, é a pergunta que mais se ouviu, esta manhã, na Rua Fernão Ornelas, onde a Bordal decidiu abrir as portas da sua fábrica ao público, mas ao ar livre, num evento intitulado 'A Bordal Vai à Rua'.

Pela primeira vez, a icónica fábrica de bordados da Madeira saiu do seu edifício habitual para mostrar, ao vivo e em plena rua, todo o processo artesanal que dá vida a uma das tradições mais emblemáticas da Região. A iniciativa decorreu, esta manhã, entre as 10 e as 12 horas, e despertou grande curiosidade entre locais e turistas.

“Tem sido incrível. As pessoas param, lembram-se do cheiro, das histórias das mães e avós que bordavam. Há quem diga que trabalhava na fábrica, que fazia desenhos ou picotava. É muito emocionante”, afirma a responsável da Bordal, Susana Vacas, visivelmente satisfeita com a adesão.

A ideia nasceu da vontade de mostrar que o bordado Madeira continua a ser feito como antigamente.

“Normalmente só se dá importância à bordadeira, mas este ano decidimos ter não só as bordadeiras, mas também toda a fábrica, replicando na rua aquilo que são as suas normais funções no prédio", explicou, acrescentando que "esta é uma forma de trazer a nossa cultura para a rua".

A escolha da rua não foi por acaso: é uma artéria movimentada e, embora tenha sido difícil conseguir o espaço durante duas horas, a aposta está a ser considerada um sucesso.

Destaque ainda para a fachada do edifício da Bordal que foi decorado com toalhas estampadas, criando uma instalação artística visualmente marcante que homenageia a beleza do bordado tradicional.

Bordado Madeira sai à rua e reacende memórias de gerações
Bordado Madeira sai à rua e reacende memórias de gerações dnoticias.pt

Para quem quiser ver mais, durante a tarde, entre as 14 e as 18 horas, haverá visitas gratuitas à fábrica da Bordal, onde será possível conhecer em detalhe todas as fases da produção do bordado Madeira, desde o desenho até ao bordado finalizado.

Apesar de iniciativas anteriores da Bordal em hotéis, há cerca de 10 anos, com presença mensal durante um ano, esta é a primeira vez que a fábrica se instala literalmente na rua e poderá não ser a última.

Já pensámos numa ideia um pouco mais louca: levar a fábrica, com a mesa verdadeira, para a Placa Central, e estar lá o dia inteiro. Veremos se o conseguimos fazer no próximo ano". Susana Vacas

Ana Freitas foi uma das pessoas que não ficou indiferente ao evento da Bordal.

Esta é uma iniciativa engraçada, que deveria ser feita mais vezes". Ana Freitas

Ao DIÁRIO, revelou que começou a trabalhar aos 10 anos e reformou-se aos 60. Hoje, com a vista já cansada, confessa que não consegue mais bordar, mas continua a sentir uma ligação profunda à arte que marcou a sua vida.

Ana Freitas lamenta não ter na família quem dê continuidade à profissão, como acontecia no passado, quando o saber passava de geração em geração.

"Tenho um filho e os homens não estão para aí virados", justificou, referindo que esta é uma profissão em vias extinção, que durará "apenas mais 20 anos".

Para travar esse desaparecimento, deixa um apelo: “O Governo devia fazer uma fábrica por conta do Estado. Os jovens deviam fazer formação lá, serem pagos por isso e depois continuarem a trabalhar na própria fábrica. Em casa não dá".

A iniciativa 'A Bordal Vai à Rua' está inserida nas comemorações do Dia Internacional do Bordado, que se assinala hoje.