
A Alemanha prepara-se para recuperar a obrigatoriedade do serviço militar, relata a agência de notícias alemã DPA News, citado o próprio chanceler, Friedrich Merz. O objetivo será garantir o recrutamento de soldados suficientes para as Forças Armadas.
"Provavelmente, não conseguiremos gerir as necessidades com o atual sistema voluntário", afirmou em Berlim, nesta segunda-feira, assumindo a necessidade de "elementos adicionais garantidos por um serviço militar obrigatório", caso os planos preparados pelo ministro da Defesa germânico, Boris Pistorius, para tornar o serviço militar mais atrativo acordado entre o SPD e os conservadores no governo não tenham os efeitos pretendidos.
A obrigação de cumprir serviço militar na Alemanha caiu em 2011, e desde então as Forças Armadas Alemãs têm recrudescido. Neste momento, pelos cálculos do governo de Berlim, seriam necessários mais 60 mil homens, quantifica a DPA News, que refere a clareza das declarações de Pistorius: "A Bundeswehr deve voltar ao centro da nossa sociedade. Foi um erro — como sabemos agora, mais do que nunca — suspender o serviço militar obrigatório." O objetivo de longo prazo é formar uma força de reserva de 200 mil soldados.
Em Portugal, onde o serviço militar obrigatório foi abolido em 2004, os dados do Estado-Maior-General das Forças Armadas apontam para um total de 23.678 homens, incluindo militares dos quadros permanentes no ativo e na reserva.
A reintrodução do serviço militar obrigatório tem vindo a ser debatida em vários Estados-membros, com um inquérito europeu a revelar um amplo apoio à ideia em países como França (62%), Alemanha (53%) e Polónia (51%). Curiosamente, conforme noticia a DPA News, alguns destes são, simultaneamente, dos maiores opositores europeus ao aumento de gastos orçamentais com a Defesa.
A ideia de aumentar essa despesa tem dividido a Europa e se, em países como a Polónia e a Dinamarca (70%), o Reino Unido (57%), a Estónia (56%) e Portugal (54%), há uma maioria que vê esse investimento militar como necessário, menos compreensivos são os nacionais de países como Itália (43%), mas também a Alemanha (47%), Espanha (46%), França e Hungria (45%) no apoio a uma solução desse tipo para reduzir a dependência europeia, nomeadamente dos Estados Unidos.
A Alemanha prevê agora aumentar para 3,5% do seu orçamento a despesa com Defesa, até 2029.
A possibilidade de criar na Europa um escudo antimíssil de tipo nuclear seria uma das ações financiadas por esse incremente de investimento, uma ideia que tem sido acarinhada pela Alemanha, com o chanceler Friedrich Merz a anunciar, já no mês passado a intenção de encetar conversações com o Reino Unido e França, duas potências nucleares europeias, no sentido de explorar uma estratégia nuclear conjunta.
Numa sondagem levada a cabo pela Forsa para a revista Internationale Politik, citada pela DPA News, dois em cada três alemães são favoráveis à construção de um escudo nuclear na Europa (apenas 29% se opõem). Sendo que este inquérito foi conduzido ainda antes da escalada do conflito entre Israel e o Irão, bem como da intervenção militar americana e consequente resposta iraniana.