
As alterações climáticas estão a agravar-se e exigem um esforço maior, a nível mundial, para que sejam cumpridas as metas da temperatura média global, defendeu ontem o presidente do Conselho Nacional de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.
"As notícias não são muito boas, porque as alterações climáticas estão a agravar-se. Penso que grande parte da população mundial sente isso com as ondas de calor, mas também com os eventos extremos de precipitação intensa, que dão origem a cheias", afirmou, em declarações aos jornalistas, Filipe Duarte Santos.
O geofísico falava, na Praia da Vitória, nos Açores, à margem da conferência internacional "Tempo, Clima e a Economia", organizada pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
A temperatura média global da atmosfera à superfície atingiu, no ano passado, um novo recorde, com um aumento de 1,55 graus celsius, relativamente ao período pré-industrial.
A mitigação das alterações climáticas obriga a uma redução das emissões de gases com efeito estufa, sobretudo nas fontes primárias de energia, que ainda são, em 80% dos casos a nível mundial, carvão, petróleo e gás natural.
Segundo Filipe Duarte Santos, Portugal é um exemplo positivo, tendo atingido, no ano passado, 71% da energia elétrica gerada de origem renovável.
No entanto, do estrangeiro chegam sinais preocupantes, como é o caso da nova administração norte-americana que "nega a realidade que é evidente para muitas pessoas".
"Tem havido despedimentos bastante significativos em laboratórios do Estado nos Estados Unidos e isso é grave, porque a ciência tem ajudado muito a humanidade e se negarmos a ciência temos um futuro muitíssimo mais difícil", alertou o geofísico.
Filipe Duarte Santos reconheceu que houve redução do investimento na mitigação das alterações climáticas e defendeu "um esforço maior para cumprir o Acordo de Paris de redução das emissões".
"A transição energética é inevitável. Vai acontecer. A questão que se põe é quanto tempo é que vai levar, porque os impactos vão-se agravando e quanto mais tarde a fizermos maiores são os impactos", salientou.
Ricardo Deus, chefe de divisão de Clima e Alterações Climáticas do IPMA, reforçou que as alterações climáticas vieram para ficar e que é a atividade humana que está a forçar esta mudança de clima.
"É o novo normal como já apelidamos. Temos de olhar para este contexto de clima diferente com todos os impactos que estão associados", reconheceu.
Para o meteorologista, é "inegável" que o aumento das temperaturas em Portugal, à semelhança do que acontece a nível global, está relacionado com as alterações climáticas.
"Se olharmos aos últimos 20 anos há uma consistência no registo dos valores de temperatura máxima do ar cada vez mais elevadas. Temos vindo a bater recordes consecutivamente", frisou.
Segundo Ricardo Deus, a consequência não é tanto a ocorrência de fenómenos meteorológicos, mas "a intensidade e o seu impacto", que surpreende os cientistas, como aconteceu no final de 2024, com uma quantidade de chuva "inimaginável", num curto período de tempo, em Valência (Espanha).