Caixotes de ajuda humanitária suficientes para encher 1.000 camiões estão a apodrecer junto a Gaza, por falta de distribuição, enquanto, segundo agências humanitárias, a fome está a alastrar entre a população do enclave.

"Temos aqui aproximadamente mil camiões de ajuda humanitária, que entraram pelo lado de Gaza, à espera de serem recolhidos e distribuídos pela comunidade internacional", disse à EFE na fronteira israelita o coronel Abdullah Halabi, chefe da Administração de Coordenação e Ligação a Gaza.

"Israel, através das Forças de Defesa de Israel (IDF), facilita a passagem da fronteira e o envio de ajuda de fora de Gaza, e auxilia as Nações Unidas e a organização a transportar ajuda para Gaza", adiantou o coronel.

"A responsabilidade pelo transporte da ajuda dentro de Gaza cabe à organização humanitária, a qual assistimos de todas as formas possíveis para que possa realizar o seu trabalho", acrescentou à agência de notícias.

De acordo com a EFE, sob o sol escaldante do verão caixas de alimentos estão a apodrecer ao ar livre na passagem fronteiriça de Kerem Shalom, que dá acesso à Faixa de Gaza.

Aves de rapina sobrevoam as caixas de ajuda humanitária que deveriam ser distribuídas aos residentes de Gaza que sofrem de uma fome sem precedentes.

Sem qualquer cobertura nem refrigeração, encontram-se empilhados na área sacos de farinha rasgados, garrafas de óleo expostas ao sol, pacotes de massa cobertos de bolor e caixas de sumo furadas.

Alguns ostentam os selos de agências da ONU, como a UNICEF e o Programa Alimentar Mundial, bem como de ONG como a World Central Kitchen.

"Israel não restringe o fluxo de ajuda; o problema é a recolha e a distribuição", sublinhou Halabi em resposta ao porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric, que na quarta-feira afirmou que, para os condutores das agências acederem aos mantimentos necessitam de múltiplas autorizações, de uma pausa nos bombardeamentos e da abertura dos portões da fronteira.

A porta-voz do Gabinete de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), Olga Cherevko, confirmou à EFE que "os alimentos deterioram-se enquanto se aguarda a recolha" e sugeriu que organizações como a Fundação de Ajuda Humanitária de Gaza (GHF), que gere a distribuição em quatro pontos do enclave sob controlo militar israelita, operem com diferentes mecanismos e possíveis escoltas armadas, o que facilita o acesso.

Os níveis de subnutrição em Gaza agravaram-se em março com o encerramento total dos pontos de acesso, durante o qual não foi permitida a entrada de alimentos, medicamentos e combustível.

Israel acusa o Hamas de se apropriar da ajuda humanitária que entrava no território através de agências da ONU e de ONG, para seu uso e venda à população.

Acusa ainda as Nações Unidas de serem coniventes com o movimento islamita palestiniano, designado terrorista por Israel, Estados Unidos, União Europeia, e diversos países.

Embora Israel tenha reaberto parcialmente as travessias no final de maio, o fluxo de ajuda continua a ser muito limitado e a sua distribuição em Gaza mantém-se de alto risco.

Além disso, de acordo com fontes médicas no enclave, mais de mil residentes de Gaza foram mortos por disparos do exército israelita perto de pontos ou rotas de distribuição.

O Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) alertou, na quarta-feira, para o aumento de mortes de crianças por subnutrição.

Num novo balanço do conflito, o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, informou hoje que registou 59.587 mortos e 143.498 feridos.

Nessa contagem incluem-se pelo menos 115 mortos por fome ou desnutrição desde o início da ofensiva israelita, em outubro de 2023.

A guerra em curso em Gaza foi desencadeada pelos ataques liderados pelo grupo extremista palestiniano Hamas em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, que causaram cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns.

O enviado especial dos Estados Unidos, Steve Witkoff, disse hoje que Washington vai interromper as conversações para um cessar-fogo em Gaza, depois de a última resposta do Hamas "mostrar uma falta de desejo de alcançar" uma trégua.