
O caso de uma grávida de 34 semanas que esperou três horas numa ambulância antes de ser encaminhada para um hospital está a dar que falar, com críticas e passa-culpas. O antigo diretor-executivo do Serviço Nacional de Saúde pediu que o Ministério da Saúde assumisse as responsabilidades, numa declaração que já foi criticada pelo atual CEO do SNS.
No domingo, Fernando Araújo considerou que o Serviço Nacional de Saúde vive um dos momentos mais graves dos últimos 50 anos e pediu ao Ministério da Saúde para assumir as responsabilidades.
O ex-diretor do SNS afirmou que "há problemas de insegurança graves" e que a culpa não é do INEM, nem dos hospitais e, muito menos, dos pacientes: "Agora parece que é moda culpar os próprios utentes".
"Estranho muito que haja quem fale como ex-diretor executivo ao mesmo tempo que é candidato"
Estas declarações levaram o atual diretor-executivo do SNS a acusar Fernando Araújo de criar alarmismos e de querer transformar a saúde num "tema político".
Em entrevista ao Observador, Álvaro Almeida desvalorizou os alertas do ex-diretor, dizendo mesmo que "estranha muito que haja quem fale como ex-diretor executivo ao mesmo tempo que é candidato".
O CEO do SNS garantiu que o fecho de várias urgências no fim de semana de Páscoa foi planeado e sublinhou que, apesar dos encerramentos, os serviços estão a funcionar a responder, não tendo havido a necessidade de recorrer aos privados.
Sobre o plano de verão, assegurou que já está delineado e que entra em vigor a 1 de maio.
Grávida esperou três horas numa ambulância
Uma grávida de 34 semanas, residente na Moita, teve de ficar durante três horas numa ambulância antes de ser reencaminhada para a Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa. De acordo com a Associação Nacional dos Técnicos de Emergência Médica, o CODU estava a "tentar perceber para onde poderia transportar esta senhora parturiente e os bombeiros ficaram à espera de uma decisão".
Uma decisão que demorou três horas a ser tomada e que o INEM recusa ter responsabilidade. Num comunicado divulgado no sábado, a Comissão de Trabalhadores do Instituto Nacional de Emergência Médica rejeitou que os seus profissionais sejam o "bode expiatório" de uma SNS "com falhas", sobretudo no encaminhamento de utentes de risco.
No mesmo dia, o diretor-executivo do SNS garantiu que o caso foi corretamente resolvido, mas atribuiu à utente a responsabilidade:
"Terá havido um pormenor que não terá corrido tão bem, mas isso terá sido da responsabilidade da própria pessoa."
ULS diz que grávida recusou transferência
Num comunicado enviado à agência Lusa, a Unidade Local de Saúde do Arco Ribeirinho adiantou que a grávida de gémeos tinha sido observada numa consulta de alto risco obstétrico no Hospital do Barreiro e recusou ser transferida para um hospital com cuidados intensivos neonatais.
A grávida alegou a "necessidade de resolver problemas familiares no domicilio" e, perante isso, foi aconselhada a contactar a linha SNS 24 logo que possível, "referindo o risco de grande prematuridade e a necessidade de ser encaminhada para uma unidade hospitalar com cuidados neonatais diferenciados".
O facto é que este "pormenor que não terá corrido tão bem" levou a grávida a ficar três horas à espera numa ambulância.