
Nick Cave voltou a falar sobre Arthur, um dos seus filhos que morreu tragicamente em 2015, aos 15 anos. No seu site, “The Red Hand Files”, em que conversa com os fãs, o músico e compositor australiano explicou que a dor da perda continua, mas que muda com o tempo.
Cave, de 67 anos, diz que o luto deixa de ser uma sensação de revolta ou injustiça e torna-se algo mais poético e profundo, um sentimento mais rico e cheio de significado. A tristeza, segundo ele, ganha novas camadas, tornando-se até mais criativa e amorosa.
“O luto desabrocha com a idade. Já não é uma afronta pessoal ou uma traição cósmica, e sim algo poético, à medida que aprendemos a render-nos perante ele. A tristeza fica mais rica, mais profunda, mais texturizada. Fica mais interessante, mais criativa, mais amável", começou por dizer.
Nick Cave também partilhou que se surpreendeu ao perceber que a sua experiência é comum a todos. Apesar de cada pessoa ser única, a dor e a fragilidade são universais. Tanto ele como a sua esposa, Susie, entendem que o mundo não é cruel ou indiferente, mas sim algo precioso.
"Descobri que Deus está em todas as coisas"
O artista falou ainda sobre a sua visão de Deus, dizendo que o trauma da morte do filho foi uma forma de “Deus falar” com ele, não numa perspetiva religiosa tradicional, mas como uma forma de estar atento à beleza e complexidade da vida, mesmo nos momentos mais difíceis.
“Entendi que Deus é uma forma de perceção, uma forma de nos sentirmos alerta em relação à ressonância poética do ser. Descobri que Deus está em todas as coisas, até nas mais maléficas, até no nosso desespero”, referiu.
Cave contou que partilhou estas palavras com a esposa que lhe disse que as coisas melhoram com o tempo. Acredita que o Arthur a visita regularmente, sempre com a mesma idade, e que às vezes apenas se senta com ela, num gesto simples e silencioso de presença.
“Disse-me que o Arthur ainda a visita todas as semanas, sempre com a mesma idade. Nada acontece: ele só se senta com ela. Às vezes, ela aperta-lhe os sapatos. Às vezes penteia-o. Às vezes senta-se ao colo dela e abraça-a", rematou.
Na última década, Nick Cave enfrentou a dura realidade de perder dois dos seus filhos em tragédias distintas.
Em 2015, Arthur, o seu filho mais novo, faleceu aos 15 anos, após cair de um penhasco em Brighton, em Inglaterra. Sete anos mais tarde, em 2022, Jethro Lazenby, o filho mais velho do músico, veio a falecer em Melbourne, na Austrália, com apenas 31 anos.