
Num mercado onde a obsessão pelos números continua a dominar, a Zontes 703 RR levanta uma questão ousada: ainda faz sentido a existência das superbikes como as conhecemos? Esta nova proposta chinesa oferece quase tudo o que uma desportiva de topo promete — potência, eletrónica, design arrojado — mas a um preço francamente inferior. E sem grandes compromissos.
A fórmula da 703 RR não é ingénua. Com 95 cavalos e 74,5 Nm de binário, ela entra num segmento abaixo dos 100 cv onde rivais como a CBR650R ou a GSX-8R já têm estatuto consolidado. Mas a Zontes decide ir mais além na filosofia: coloca uma ciclística apurada, uma ergonomia agressiva e um pacote eletrónico completo ao serviço do condutor comum, e não apenas do piloto de track days.
Apesar de algumas arestas a limar, como a resposta inicial do acelerador ou pequenos ajustes na suspensão, o conjunto é surpreendentemente maduro. Não se trata aqui de um produto em fase experimental — sente-se que há um trabalho de engenharia sério por detrás desta máquina. E, sobretudo, sente-se uma identidade: a 703 RR sabe o que quer ser.
Mais do que competir com as melhores, a Zontes propõe um novo cenário. Um em que o motociclista não precisa de pagar 10 mil euros ou mais para se sentir parte do mundo das desportivas. Onde cada detalhe — desde o painel TFT ao controlo de tração — serve um propósito real, sem apenas somar à lista de argumentos de venda.
Se o futuro das duas rodas passa por tornar a paixão mais acessível e racional, então a 703 RR não é só uma alternativa. É um prenúncio. E talvez, apenas talvez, o mito da superbike inatingível esteja mesmo a chegar ao fim.
Fotos: Zontes